O Novo Banco registou um prejuízo de 400 milhões de euros no primeiro semestre deste ano. O número representa um agravamento para quase o dobro dos 212 milhões registados entre janeiro e junho de 2018. O legado tóxico do banco, sobretudo devido à venda de carteira de ativos problemáticos como imóveis e crédito malparado, foi o grande causador das perdas.
O consolidado
O Novo Banco tem apresentado as suas contas dividindo-o em três: o consolidado, que é o real; o recorrente, a parcela do banco que é o “core” da sua atividade e que é para manter; o legado, que agrega as exposições mais tóxicas e as áreas de negócio de que se vai desfazer.
É no consolidado que a instituição financeira liderada por António Ramalho apresenta prejuízos de 400 milhões.
A margem financeira (diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos) subiu 19% para 262 milhões de euros. As comissões recuaram 4% e, ao todo, o produto bancário recuou 12%. Do lado dos custos operacionais, houve uma estagnaçã o, sendo que as imparidades agravaram-se para 515 milhões. E a maior parte das imparidades deve-se à parte do legado tóxico.
O legado
“Contínua aceleração da limpeza do legado”, é o que descreve o comunicado de resultados. A perda neste conjunto de ativos tóxicos, avaliados em quase 10 mil milhões de euros em termos líquidos, foi de 514 milhões. Aqui, estão incluídos os prejuízos de 340 milhões causados pelas vendas deste portefólio.
Neste semestre, houve três operações a contribuir para este total: o projeto Sertorius, uma carteira de imóveis de 400 milhões de euros vendida aos americanos do fundo Cerberus; o projeto Albatroz, de ativos problemáticos em Espanha também de 400 milhões; a GNB Vida, a seguradora que já tem acordo de venda aos americanos da Global Bankers, mas que continua por concretizar.
As perdas devem-se ao facto de os ativos serem vendidos a um preço – nunca tornado público – inferior ao valor que está registado no balanço. Ou, no caso da GNB Vida, de imparidades adicionais, devido ao atraso da operação.
No segundo semestre, deverá realizar-se uma terceira operação de venda de créditos não produtivos, o projeto Nata 2, de 3,3 mil milhões.
Os ativos que estão nesta parcela são, em grande medida, aqueles que estão sob o designado mecanismo de capital contingente, que prevê que o Fundo de Resolução, além dos 1,9 mil milhões de euros já injetados no banco desde a venda, possa ter ainda de colocar mais 2 mil milhões em caso de descida do valor dos ativos aí incluídos e da deterioração dos rácios de capital.
O recorrente
Já o ramo recorrente – que é o que António Ramalho tem defendido que deve ser olhado – melhorou os ganhos. O lucro, aqui, é de 113 milhões de euros. A margem financeira subiu 25% para 236 milhões de euros, devido à redução alcançada no juros pagos nos depósitos. As comissões desceram quase 4%, mas os resultados beneficiaram também da venda e reavaliação de dívida pública.
Já os custos operacionais cresceram 1,9% para 235,9 milhões, com o banco a justificar com o investimento na inovação.
Porém, mesmo no recorrente houve uma subida das imparidades, de 800 mil euros para 68,2 milhões de euros, devido em grande medida ao reconhecimento de potenciais perdas futuras no crédito concedido.
Malparado tem de cair mais
O crédito malparado consolidado ficou, em junho, nos 20,7% da carteira de crédito, face aos 22,4% que era registado em dezembro e os 27,6% no final do primeiro semestre de 2018. São 6.268 milhões de euros. É, apesar da descida, o rácio mais alto do sector bancário português.