A exposição sobre o Campo de Concentração do Tarrafal é um "dever de memória", diz Alfredo Caldeira, comissário da iniciativa que está patente naquela localidade do Norte da ilha cabo-verdiana de Santiago.
Coincidente com a abertura oficial do simpósio internacional sobre o também conhecido como o "campo da morte lenta", a exposição acolhe uma série de documentos e textos sobre as duas fases por que passou uma das prisões mais odiadas pelos antifascistas portugueses e nacionalistas angolanos, cabo-verdianos e guineenses.
"É um dever de memória. Foi nossa intenção disponibilizar informação histórica e iconográfica sobre as duas fases deste campo de concentração, criado por (António Oliveira) Salazar e que funcionou desde 1936 a 1954, essencialmente dirigido contra antifascistas portugueses, e, posteriormente, de 1961 a 1974, contra nacionalistas de Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau", recorda Caldeira.
A exposição, que decorre numa das alas que serviu, na segunda fase do campo, de celas dos presos políticos de Cabo Verde, conta com 18 painéis sobre a evolução do campo de concentração ao longo dos anos e ainda com dois grandes cartazes onde constam os nomes de todos os presos que passaram pelo "Tarrafal".
A iniciativa demorou cerca de seis meses a realizar e é fruto da recolha e inventariação de testemunhos e documentos, alguns deles inéditos, com vista a constituir um acervo histórico e museológico "que faculte um melhor conhecimento do passado". Por outro lado, disse, "permitirá manter viva a denúncia de factos que a nossa memória colectiva tem o dever de registar".
Para Alfredo Caldeira, o legado histórico evocado exige, porém, "a consolidação, no Tarrafal, de um projecto museológico transnacional que preserve e dinamize a memória da luta comum" dos povos de Portugal, Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde, "que deve ser estendida aos restantes países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)", como Brasil, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. "Importa afirmar os ideais e princípios que devem nortear a cidadania e os direitos humanos nas nossas sociedades democráticas", concluiu Alfredo Caldeira.
A exposição conta com o apoio das Fundações Amílcar Cabral e Mário Soares, dos arquivos históricos de Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau, do Arquivo Histórico Ultramarino, da Direcção Geral dos Arquivos/Torre do Tombo e, entre outros, do Gabinete de Estudos Sociais do Partido Comunista Português (PCP).