O acidente dos 33 mineiros, ocorrido há um ano no Chile, recordou mais uma vez ao mundo os verdadeiros perigos desta profissão que regista anualmente perto de 12 mil mortes, de acordo com indicadores internacionais.
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A 5 de agosto de 2010, um desmoronamento numa mina localizada a mais de 800 quilómetros a norte de Santiago do Chile deixou um grupo de 33 homens, 32 chilenos e um boliviano, soterrado a cerca de 700 metros de profundidade.
Sobreviveram 69 dias debaixo de terra e foram considerados "heróis nacionais" por serem um caso sem precedentes em termos de sobrevivência.
As questões relacionadas com a segurança e a fiscalização do local do acidente surgiram de imediato e a maioria dos sobreviventes interpôs recentemente uma ação judicial contra o Estado chileno, por alegada negligência do Serviço de Geologia e de Mineração.
Menos mortos desde o acidente
Um ano depois do acidente, o diretor deste serviço garante que o número de mortos registados nesta atividade caiu para metade, admitindo, no entanto, que ainda existem perto cinco mil explorações mineiras clandestinas no Chile.
De acordo com Enrique Valdivieso, em declarações à agência noticiosa espanhola EFE, 12 mineiros perderam a vida durante o exercício da atividade até junho deste ano no Chile. No mesmo período em 2010, o número de mortos era 27, ultrapassando os 40 no final do ano.
Valdivieso frisou que o número de fiscais aumentou, de 18 para 34. Ao longo dos últimos 16 anos, a Organização Internacional do Trabalho e entidades como a International Federation of Chemical, Energy, Mine and General Workers' Union (ICEM) têm lutado pela ratificação da Convenção 176, relativa à segurança e saúde nas minas.
Segundo a ICEM, desde 1995, apenas 24 Estados ratificaram a Convenção, lista que não integra países como China, Rússia, Índia ou Ucrânia, que registam os maiores níveis de mortalidade.
Portugal ratificou a Convenção em 2001, durante a presidência de Jorge Sampaio. A China é um dos casos mais sérios, ao representar cerca de 80 por cento das mortes de mineiros a nível internacional.
2.400 vítimas mortais na China
Mais de 2.400 mineiros perderam a vida no ano passado em minas chinesas, com uma média de mais de seis acidentes mortais por dia.
Segundo organizações não governamentais, estes números oficiais poderão estar muito abaixo da realidade, dado que muitas minas operam ilegalmente e há acidentes que não são comunicados por receio de sanções ou de encerramento.
Este ano, outros países testemunharam desastres em minas, foi o caso do Paquistão, onde 43 mineiros morreram na sequência de uma explosão numa mina de carvão, e da Ucrânia, que registou em julho passado a morte de 37 trabalhadores em dois acidentes na região leste do país.
O caso dos mineiros do Chile comoveu a opinião pública internacional e a operação de resgate dos 33 homens, realizada a 13 de outubro, foi acompanhada via televisão por mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo.
Segundo publicou na altura a comunicação social chilena, a audiência mundial das operações de resgate só poderá ser comparada com os 600 milhões de pessoas que em 1969 estiveram em frente ao televisor a ver a chegada do homem à Lua.