Fazer um programa só com promessas que se podem cumprir foi uma dor de cabeça?
Não foi mais do que a limitação da honestidade e seria mau senti-la como um constrangimento. Quisemos apresentar compromissos sérios e de verdade. Tivemos milhares de colaborações e fizemos um programa de prioridades e escolhas.
Sócrates apresentou o programa do PS dizendo que "esta é a altura para o Estado dizer presente". O programa do PSD é de combate ao Estado?
Não, esse é um rótulo que tentaram pôr-nos mas que não cola. Na Economia é um facto que defendemos uma redução do papel dirigista do Estado e uma reorientação do investimento público. Porque temos consciência de que só libertando o potencial de crescimento da nossa economia privada é que poderemos superar a crise e desenvolver-nos.
Mas nas políticas sociais são menos arrojados nas rupturas ou menos claros no que poderão vir a fazer.
Discordo. Neste programa valorizamos o papel da família no ataque aos problemas sociais e uma articulação em rede das Instituições Privadas de Solidariedade Social e aí pode-se dizer que há uma reorientação do papel do Estado. Quanto à Saúde ou à Educação há no PSD correntes diversificadas mas ficamos na matriz social-democrata. Mantemos a universalidade dos cuidados de saúde e o reconhecimento do papel fundamental da escola pública, embora com a defesa de uma progressiva liberdade de escolha por parte dos cidadãos entre serviços públicos ou privados, e da necessidade de controlos exteriores quer dos serviços de saúde quer de educação.
O que pesou mais foi a matriz social-democrata ou o momento político que desaconselha guinadas liberais?
Foram as duas coisas: a matriz social-democrata mas também a consciência de que não estamos num tempo de cortar em despesas sociais nem de iniciar cruzadas com a redução dessas despesas - isto parece evidente. A prioridade do país é aumentar o potencial de desenvolvimento económico.
Algumas propostas do Instituto Sá Carneiro (IFSC), sob a alçada de Alexandre Relvas, defendiam que se fosse mais longe nas rupturas com o PS.
Não tenho a mínima dúvida que o IFSC pode rever-se facilmente neste programa, nomeadamente na área económica.
Incluir António Preto nas listas de deputados não beliscou a imagem de seriedade da líder do PSD?
A credibilidade, seriedade e honestidade de uma pessoa dependem de um percurso de vida e não desse tipo de episódios. A imagem da líder está intacta.
Se o PSD ganhar sem maioria absoluta deve governar sozinho ou coligado?
Há uma pluralidade de soluções. Já vivemos na nossa experiência democrática diversos tipos de coligações que funcionaram bem, já tivemos governos minoritários muito bons, talvez dos melhores, não devemos reduzir o leque de possibilidades e este programa foi construído para poder ser executado (com maior ou menor dificuldade) independentemente de termos ou não maioria absoluta.
Não exclui o Bloco Central?
Não se deve afastar nenhuma solução. É evidente que nas actuais condições programáticas parecem-me difíceis entendimentos entre alguns partidos e nós apresentamo-nos como alternativa ao PS. Aliás, a grande diferença que nos separa da restante oposição é que só nós é que podemos remover o PS do Governo.
Texto publicado na edição do Expresso de 29 de Agosto de 2009