SLEEPING BEAUTY de Julia Leigh (Austrália)
Estreia na longa-metragem da australiana Julia Leigh, que assinou argumentos de filmes de Jane Campion. História de uma rapariga com problemas familiares e sem dinheiro, Lucy, que não tem pejo em fazer-se à vida. Orgulhosa e misteriosa, acaba por envolver-se numa rede de prostituição de luxo e deixa-se anestesiar, vendendo o seu corpo durante o sono a velhos poderosos, como uma bela adormecida.
WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN de Lynne Ramsay (Reino Unido)
A inglesa Lynne Ramsay adapta um romance do norte-americano Lionel Shriver que se inspirou no massacre de Columbine. Tilda Swinton interpreta a história de uma mãe que é incapaz de comunicar com o seu filho, que é um caso de rebeldia desde o berço. A comunicação entre ambos é de tal modo complicada que, na véspera dos seus 16 anos, o rapaz resolve desencadear uma tragédia. Será que a mãe soube amar o seu filho? E qual a sua responsabilidade no que vai acontecer?
POLISSE de Maïween (França)
Terceira longa-metragem da jovem atriz e realizadora francesa Maïween le Besco (irmã mais velha de Isild le Besco), que assina simplesmente Maïween. O filme descreve o quotidiano dos agentes da BPM (Brigada de Protecção de Menores), departamento da polícia que se encarrega da prisão de pedófilos e da delinquência juvenil, e o modo como aqueles equilibram a sua vida profissional e a sua vida privada.
HABEMUS PAPAM de Nanni Moretti (Itália)
Depois da morte do Papa, o Conclave reune-se para definir o seu sucessor. Vários dias são necessários até que o fumo branco se eleve no céu e, finalmente, um Papa é eleito. Mas o povo espera inquieto pela sua aparição. Na verdade, o novo Papa parece não ser capaz de assumir a responsabilidade e está deprimido. O Vaticano decide então chamar um psicanalista. O Papa é Michel Piccoli. E o psicanalista fica a cargo de Nanni Moretti, que também realiza.
FOOTNOTE de Joseph Cedar (Israel)
Depois de um filme de guerra ("Beaufort", Urso de Prata em Berlim), o israelita Joseph Cedar chega à competição de Cannes com uma comédia, história de rivalidade entre um pai e um filho, ambos professores universitários em Jerusalem e dedicados às suas vidas de trabalho. Um dia, o pai recebe a notícia de que vai receber um prémio de prestígio, deixando o filho, que procurava a mesma distinção, louco de inveja. Sabotará o filho a glória do pai?
MICHAEL de Markus Schleinzer (Alemanha)
É outra primeira obra a concurso pela Palma de Ouro. Markus Schleinzer inspirou-se no caso Natascha Kampusch (rapariga austríaca que foi sequestrada aos 10 anos de idade, em 1998, e permaneceu sob costódia do seu raptor até à sua fuga, em 2006) para relatar os últimos cinco meses da vida em comum (forçada) de Wolfgang, uma criança de 10 anos, e de Michael, que tem 35.
LE GAMIN AU VÉLO de Jean-Pierre e Luc Dardenne (Bélgica)
História de Cyril, um rapaz de 12 anos que só pensa numa coisa: reencontrar o pai que o colocou provisoriamente num orfanato. Na sua busca, conhece Samantha, uma cabeleireira que aceita recolhê-lo aos fins de semana. Són que Cyril não confia nos adultos... Os irmãos Dardenne perseguem com este filme a sua terceira Palma de Ouro depois de "Rosetta" e "A Criança".
THE ARTIST de Michel Hazanavicius (França)
Repescado para a competição no último minuto, "The Artist" é o novo trabalho do autor de "OSS 117" (uma paródia a James Bond de grande êxito no hexágono). A França ficou assim com quatro representantes na luta pelo ouro. Trata-se da história de amor de uma vedeta do cinema mudo e de uma estrela americana de Hollywood. O filme, a preto e branco, decorre em 1927. E a chegada do cinema sonoro vai trazer problemas às personagens.
L'APOLLONIDE - SOUVENIRS DE LA MAISON CLOSE de Bertrand Bonello (França)
O francês Bonello, que já fez um filme sobre Tirésias e o seu mito, regressa a Cannes (após "De La Guerre") com um filme histórico passado na alvorada do século XX. Numa maison close de Paris, uma prostituta tem gravada no rosto uma cicatriz que lhe desenha um sorriso trágico. E ao lado da mulher que ri, outras prostitutas fazem a sua vida, partilhando as mesmas dúvidas e os mesmos dramas. Do mundo exterior, elas não sabem nada.
THE TREE OF LIFE de Terrence Malick (EUA)
É um dos filmes mais aguardados do ano, mas dele pouco ainda se sabe. Gira em torno de uma família do Midwest dos anos 50. Jack cresce entre um pai autoritário e o amor incondicional e generoso da mãe. Já em adulto, será com o pai que terá que ajustar contas. E procurar uma reconciliação. Curiosa a atribuição dos papeis face à idade dos atores em causa: o pai (nos flash-backs) é interpretado por Brad Pitt enquanto que o papel de Jack (em adulto) é de Sean Penn. O texano Malick, como já se disse, tem reputação difícil. Não costuma dar a cara nos festivais que estreiam os seus filmes. Não fala de todo com a imprensa. Não se sabe se ele virá sequer a Cannes.
LE HAVRE de Aki Kaurismäki (Finlândia)
O mais famoso cineasta finlandês, presença habitual em Cannes, tem em "Le Havre" uma personagem chamada Marcel Marx, ex-escritor que agora ganha a vida naquela cidade francesa a engraxar sapatos. Marx tem dois problemas em mãos: a doença da mulher e a ameaça da polícia, que quer expulsar o filho clandestino que ele adotou. Jean-Pierre Léaud faz parte do elenco assim como a atriz-fétiche de Kaurismäki, Kati Outinen. Pode esperar-se mais um filme de Aki com um novo herói a enfrentar as injustiças do mundo.
PATER de Alain Cavalier (França)
Alain Cavalier e o ator Vincent Lindon, unidos pela amizade, conceberam à conversa este "Pater", filme envolto em segredo. Bebem vinho do Porto. Perguntam-se que filme poderiam fazer juntos, numa conversa que também podia ser a de um pai com um filho. Dizem que há tragédia e comédia, verdades e mentiras. Thierry Frémaux, diretor artístico do festival, disse em conferência de imprensa que "este é o filme mais bizarro que verão em Cannes." Mistério.
HANEZU NO TSUKI de Naomi Kawase (Japão)
A japonesa Naomi Kawase foi premiada em Cannes 2007 por "The Mourning Forest", um filme poético e contemplativo. As lendas e a história mítica do Japão estão presentes em muitos dos seus filmes e voltam em "Hanezu", passado na região de Hazuka, em Nara, considerada o berço do país. "As montanhas de Unebi, Miminashi e Kagu eram uma expressão do karma humano (...) e a sua história é universal, à imagem das inúmeras almas que se acumularam sobre esta terra."
MELANCHOLIA de Lars Von Trier (Dinamarca)
Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, John Hurt... Elenco impressionante para o novo filme de Lars von Trier, cineasta destinado a dividir. Reza a nota de intenções que Justine e Michael, por ocasião do seu casamento, dão uma luxuosa festa na casa da irmã de Justine e do seu cunhado. Enquanto isto, um planeta chamado Melancholia dirige-se para a Terra... Colisão iminente.
HARA-KIRI: DEATH OF A SAMURAI de Takashi Miike (Japão)
Takashi Miike, o japonês que realiza filmes mais depressa do que a sua própria sombra (tem mais de 80 em 20 anos de carreira), lançou-se a sério no filme de samurais com o seu último trabalho, "13 Assassins", estreado em Veneza 2010. Vem agora a Cannes com outro trabalho do género. Conta-se a história de um veterano samurai que, querendo morrer dignamente, dirige-se a casa de um seu superior hierárquico para explicar os motivos que o levam a optar pelo seppuku (o ritual suicida da sua classe). Contudo, o samurai, que é um guerreiro excepcional, esconde os seus verdadeiros objetivos. Os apaixonados pelo cinema nipónico não terão de pensar muito: trata-se de um remake (em 3D) do famoso "Hara-Kiri", realizado em 1962 por Masaki Kobayashi.
LA PIEL QUE HABITO de Pedro Almodóvar (Espanha)
Almodóvar é hoje um cineasta consagradíssimo, já competiu três vezes em Cannes, venceu na categoria de Melhor Realizador mas falta-lhe uma Palma. O castelhano insiste. Esta de novo na Croisette com um thriller que faz pensar em Edgar Allen Poe, pela história de um cirurgião plástico que, depois da morte da sua mulher num acidente de automóvel, tenta desenvolver uma nova pele, ultra-resistente, sensível às carícias e capaz de trazer a morta carbonizada à vida. História de um amor louco. O cirurgião é Antonio Banderas, que já não filmava com o seu 'mestre' desde o distante "Ata-me!" (1989). É o regresso a casa do filho pródigo após mais de vinte anos de ausência. Um encontro que vai marcar este festival.
DRIVE de Nicolas Winding Refn (EUA)
Dois filmes realizados por dinamarqueses na competição (embora "Drive" seja um filme de produção norte-americana) não é para todos os anos. Quase desconhecido em Portugal, Nicolas Winding Refn já tem um trabalho considerável como realizador e argumentista (em particular de "Pusher", o seu filme mais famoso que deu origem a duas sequelas). "Drive" acompanha o percurso de um duplo de filmes de Hollywood que vive, também ele, uma dupla vida: quando a noite cai, ele conduz automóveis em corridas organizadas pela Máfia. Mas um dia é traído. E jura vingança.
THIS MUST BE THE PLACE de Paolo Sorrentino (Itália)
Sean Penn, para além de "The Tree of Life", protagoniza "This Must Be the Place", o novo filme do italiano Paolo Sorrentino, também a concurso. A sua personagem, Cheyenne, é uma antiga estrela rock americana que, aos 50 anos, vive de rendas em Dublin, conservando ainda o look gótico do passado. A morte do pai, com quem havia cortado relações, trá-lo de volta a Nova Iorque. Cheyenne descobre então que o pai vivia obcecado por vingar uma humilhação que sofrera. Começa um road movie. A ver vamos como se safa este Sean Penn maquilhado e com uma peruca à Robert Smith...
ONCE UPON A TIME IN ANATOLIA de Nuri Bilge Ceylan (Turquia)
O turco Ceylan já faz parte da mobília de Cannes e não há filme seu que não venha parar à Croisette. Depois de "Uzak", "Climas" e "Os Três Macacos", chega "Once Upon a Time in Anatolia". Segue a vida de uma pequena cidade perdida nas estepes onde se descobre a história de um médico. O fio condutor que foi divulgado é ténue, como é hábito no cinema meditativo de Ceylan.
LA SOURCE DES FEMMES de Radu Mihaileanu (Marrocos/Bélgica/Itália/França)
Radicado há mais de 30 anos em França (exilou-se durante a ditaduta de Ceausescu), o romeno Radu Mihaileanu, autor de "O Concerto" (grande êxito comercial), foi a Marrocos rodar uma história que se passa algures numa aldeia do norte de África. Nesse local, as mulheres vão à fonte buscar água, e fazem-no há milénios, subindo uma montanha. Até ao dia em que Leïla, uma jovem esposa, propõe que as mulheres façam uma greve de sexo até que os maridos se encarreguem da difícil missão. Hafsia Harzi, Leïla Bekhti e Sabrina Ouazani, três atizes promissoras do cinema francês, todas de origem magrebina, participam no elenco.