Um documento secreto difundido a 24 de Outubro pelo Departamento de Estado condensa a análise de Washington sobre a situação portuguesa. Retoma a tese, difundida várias vezes, de que o poder pertence aos militares de esquerda, designadamente a um triunvirato composto pelo primeiro-ministro Vasco Gonçalves e pelos majores Vítor Alves e Melo Antunes, enquanto membros da comissão coordenadora do MFA. Só Costa Gomes pode evitar uma viragem mais significativa à esquerda e a possibilidade de violência. Quanto à força do PCP, todas as fontes são unânimes ao atribuir aos comunistas não mais que 15 a 20 por cento do eleitorado. A aposta dos EUA e da NATO deve incidir nos grupos moderados (incluindo a corrente dominante no PS).
Um telegrama de Bona transmite as impressões recolhidas pelo embaixador Martin J. Hillenbrand junto do líder do SPD, Willy Brandt, que visitou Portugal entre 19 e 21 de Outubro, a convite de Mário Soares. Brandt avista-se, entre outros, com Salgado Zenha, Vítor Alves e Melo Antunes. Sobre este, diz que apesar de lhe terem chegado rumores de que era um comunista, ficou a impressão que seria mais propriamente um socialista radical. Elogia o PS, como um partido muito mais pluralista que o seu SPD. De Soares, afirma ser uma figura nacional e, embora influenciado pelo marxismo, não é dogmático; além disso, é um excelente orador. Brandt diz que o futuro de Portugal também dependerá do que os EUA e a RFA fizerem. Pede a Hillenbrand para informar Kissinger de que apelara aos líderes do MFA para libertarem o ex-ministro dos Estrangeiros, Franco Nogueira, detido durante o 28 de Setembro. Sugere que também Kissinger insista nessa libertação junto dos militares.
A 18 de Outubro, e após ter discursado na Assembleia Geral da ONU, Costa Gomes reúne-se na Casa Branca com Gerald Ford. Os presidentes fazem-se acompanhar pelos chefes de diplomacia dos seus países. No dia seguinte, Kissinger almoça com Costa Gomes e Soares. Este encontro fica célebre devido à acusação feita por Kissinger a Soares de ser um novo Kerensky uma alusão ao dirigente socialista russo devorado pela dinâmica imposta à revolução bolchevique por Lenine (um episódio omisso na correspondência diplomática desclassificada).