Acusados de sabotagem económica, são presos a 12 de Dezembro uma dúzia de empresários, alguns deles bem conhecidos como o banqueiro Jorge de Brito e os principais administradores do grupo Torralta. A decisão parte do próprio primeiro-ministro. A notícia cai como uma bomba na opinião pública.
Mário Soares diz a um repórter do New York Times que o Governo não foi consultado nem informado. João Salgueiro, vice-governador do Banco de Portugal, corrobora esta versão à embaixada. Salgueiro nota que, da lista original de empresários a prender, elaborada pelo gabinete de Vasco Gonçalves, teriam sido apagados alguns nomes por Otelo Saraiva de Carvalho, o comandante do COPCON, a quem coube efectuar as detenções. Entre os poupados estariam membros da família Espírito Santo. À parte o óbvio impacto político das prisões, a embaixada considera não se estar perante uma campanha do Governo contra o sector privado em geral.
No último dia de 1974, Scott assina um telegrama a partir de uma conversa com Vítor da Cunha Rego. O chefe de gabinete de Mário Soares afiança que este deixará a pasta dos Estrangeiros e o próprio Governo em meados de Janeiro, para se dedicar a tempo inteiro ao PS - uma informação dada a título estritamente confidencial. Na sequência do congresso de Dezembro, Cunha Rego admite como muito provável uma desintegração do partido, cenário que só Soares poderá impedir, com a importante ajuda de Manuel Alegre. Perante o risco de o regime cair num bonapartismo, Cunha Rego defende que a única solução para Soares seria uma aliança com o PPD de Sá Carneiro. O pessimismo de Cunha Rego, conhecido na própria embaixada, acentua ainda mais as cores de um cenário já de si negro.
No último telegrama do ano de 1974, Scott reitera a proposta feita três meses antes, no sentido de Washington pôr fim ao embargo de armas a Portugal. Sugere que seja o próprio Costa Gomes a decidir o timing e a forma de tornar pública essa medida. Na opinião do embaixador, tal iniciativa seria uma manifestação pública de apoio e confiança da Administração Ford no Governo português. Em Washington, porém, Kissinger insiste em não auxiliar Portugal. Duas semanas depois, Scott é substituído em Lisboa por Frank Carlucci.