A Rotunda a que todos chamam da Boavista, mas na verdade está oficialmente crismada com o nome de Praça Mouzinho de Albuquerque, guarda, bem no interior daquele jardim às vezes frondoso, um monumento normalmente descrito como sendo a vitória do leão (os portugueses), sobre a águia (os franceses). É o Monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares e tem a assinatura de um homem acerca de quem será legítimo colocar a seguinte pergunta: como seria o Porto sem o traço, a mão, o gosto estético e a forte personalidade do arquitecto Marques da Silva (1869-1947)?
Transformado em verdadeiro ícone da zona ocidental, o monumento é, por extensão, um dos símbolos de uma cidade carregada de outros edifícios passíveis de serem apresentados como os grandes elementos identificadores do Porto tal como o conhecemos hoje. Todos eles têm a assinatura de Marques da Silva. Veja-se a Casa de Serralves, um dos maiores exemplos de «Art Déco» existentes em todo o Mundo, os liceus Alexandre Herculano e Rodrigues de Freitas, a Estação de S. Bento, o Teatro S. João, a Avenida dos Aliados, os edifícios da Companhia de Seguros "A Nacional", na Praça da Liberdade e os Grandes Armazéns Nascimento, na rua de Stª Catarina. Tudo na Invicta e tudo concentrado num raio de escassas dezenas de metros.
Concebido em conjunto com o escultor Alves de Sousa, o projecto do monumento destinado a celebrar a união dos portugueses, espanhóis e ingleses contra os exércitos napoleónicos, no período entre 1808 e 1814, levou vários anos a ser construído. A Cooperativa dos Pedreiros encarregou-se da obra que, iniciada em 1909, foi inaugurada apenas em 1951.
Do outro lado do jardim, já no início da Avenida da Boavista, os olhares cruzam-se com a Cada da Música, do holandês Rem Koolhaas e no confronto entre os dois nomes está contido um oceano de questões suscitadas pelos diferentes modos de ver e sentir a arquitectura na cidade. A pose contemporânea da Casa é uma boa antecâmara para os dois momentos seguintes de arte pública deste percurso: a escultura de Pedro Cabrita Reis, intitulada Palácio, e a escultura 'sem título' de Ângelo de Sousa.
Cabrita e Ângelo são porventura dois dos nomes mais fortes da arte contemporânea portuguesa. São de gerações diferentes, mas pode dizer-se que estão próximos no modo como encaram a inquietação que entendem dever estar contida em cada uma das suas criações.