Na Idade Média, o nascimento de Jesus e as celebrações a que dava lugar vinham muitas vezes acompanhados de alusões mais ou menos explícitas à Paixão de Cristo. A mãe, escolhida por Deus para dar ao mundo o seu (dele) filho, era talvez o prodígio mais importante. Mas à maternidade enternecida ligava-se logo a sombra da mater dolorosa. A evocação do nascimento acabava por ser indissociável da referência à morte, e o carácter cíclico da celebração ficava assim mais acentuado. Depois, o menino ganha uma autonomia própria. Hoje, falando em termos de não crente cuja evolução pessoal tem todavia as suas raízes na civilização cristã, creio que todos podem conceber o nascimento do menino como um símbolo de renovação da vida e também como o símbolo, embora sempre precário, de uma esperança de realização inseparável da condição humana. Essa seria uma forma de «redenção no imanente» para abarcar todas ou quase todas as utopias sociais e individuais, sem necessidade de quaisquer messianismos. E essa é ainda, com certeza, a expressão secular de uma cultura cujas representações, em todos os campos da criação (literatura, música, teatro, escultura, pintura, cinema...), nos confrontam com essa situação.
Redenção no Imanente
O presépio, independentemente de ser armado com mais ou menos riqueza e aparato, e independentemente das convicções religiosas de cada um, aponta para o facto nuclear do Natal: a celebração do nascimento da criança divina, usando o termo no sentido em que o empregaram K. G. Jung e Kerényi.