Distribuem-se os papéis de acordo com a vocação de cada qual, independentemente do que lavram os registos de nascimento. Poderá acusar-se de algum cinismo semelhante ponto de vista, mas nunca de pactuar com as correntes formas de hipocrisia. Não cabe aqui lugar para Medeias que devorem os próprios filhos, nem para Saturnos que se empanturrem de idêntica maneira. E quanto a Édipo temos conversado, libertos do destino de incorrer em variada patologia da mente. Ninguém conceberá família mais rara do que essa que o Natal nos propõe, constituída por um menino com dois pais, um divino e outro terreno, parido por uma mãe que foi virgem antes e depois do parto. Mas não corresponderá tal grupo a um sonho de família arquetípica, aquela que, não nascendo do rebento da conjugalidade, se tece ao sabor da harmonia das constelações? Digo isto para que conste, e para me defender do medo.
A construção da família
Mesmo quando as conquistas da genética me convidam a acreditar no romanesco «apelo do sangue», gosto de insistir na convicção de que a mais excelente das famílias é aquela que, não vindo determinada, se vai construindo ao longo da vida.