ARQUIVO Educação em crise

Professores invadem Lisboa

Oito meses passados sobre a manifestação de 8 de Março, os professores voltaram à rua para protestar contra o sistema de avaliação que está a 'fazê-los num oito'. A ministra já reagiu e garantiu que vai manter o processo de avaliação dos docentes.

... E a história repetiu-se mesmo. Milhares de professores invadiram Lisboa para exigir a suspensão imediata do actual modelo de avaliação de desempenho. Vieram de todo o país.



"Está na hora, está na hora da ministra se ir embora", foi uma das palavras de ordem mais escutadas na manifestação que reuniu em Lisboa muitos milhares de professores. A organização fala em 120 mil pessoas.



Apesar do elevado número de professores nas ruas da capital, a ministra da Educação garantiu que vai continuar a concretizar-se o modelo de avaliação dos professores.



"O que me preocupa é que o processo de avaliação continue a concretizar-se para garantirmos ao país a qualidade de ensino que nos permita distinguir e premiar aqueles que são os melhores professores", afirmou a ministra, numa conferência de imprensa realizada no Porto.

"Desistir não é uma solução, para isso não tenho disponibilidade", garantiu Maria de Lurdes Rodrigues. A ministra explicou que a concretização do modelo de avaliação persegue "dois objectivos". "Porque é necessário ao país e porque é o modelo que resultou de um memorando de entendimento com os sindicatos que o governo negociou de boa fé", concluiu.

No Marquês de Pombal, enquanto a cauda da manifestação chegava até à Rua do Ouro, as palavras da ministra da Educação foram recebidas com gritos de "mentirosa".

Manifestação invoca Obama

A manifestação deslocou-se até ao Marquês de Pombal, depois do final do plenário no Terreiro do Paço, durante o qual discursaram os principais dirigentes que compõem a plataforma sindical dos professores.

O 'slogan' do recém-eleito presidente norte-americano Barack Obama foi invocado. Os professores gritaram em uníssono "sim, nós podemos'.



Enquanto aguardavam a chegada dos professores retidos na A1, os professores fizeram um minuto de silêncio pelo estado da Educação.

Alguns dirigentes lembraram que estão todo o dia a educar os filhos dos outros - "É triste que não nos deixem educar os nossos próprios filhos" -, e não tenham tempo para educar os seus próprios filhos, numa alusão às demoradas reuniões e ao elevado número de horas que os professores têm de passar nas escolas para que o processo de avaliação siga em frente.



"Por favor ouçam os professores", pediram alguns dirigentes sindicais à ministra. Com tamanha multidão na rua, Maria de Loures Rodrigues não poderá ignorá-los. Há oito meses, na sequência da manifestação em Março, 100 mil professores conseguiram forçar o governo a assinar um memorando de entendimento, onde ficou consagrado, entre outras coisas, um processo simplificado de avaliação. E agora, o que se irá passar?

Clima "sufocante"

O clima "muito complicado" e de "sufoco" que os professores afirmam estar a viver-se nas escolas deve-se às "burocracias e reuniões intermináveis" adjacentes à concretização da avaliação.



Nas últimas semanas, centenas de estabelecimentos de ensino, segundo os sindicatos, pediram a suspensão do processo e, em alguns casos, suspenderam mesmo a aplicação do modelo. O Governo nega, afirmando não ter conhecimento de situações em que o processo foi interrompido por decisão dos órgãos legítimos das escolas.