O deputado socialista Manuel Alegre acusa o Ministério da Educação de "governar para as estatísticas", defendendo que "não se pode reformar a educação tapando os ouvidos aos protestos e às críticas", no editorial da revista "Ops!".
No segundo número da Revista de Opinião Socialista, "Ops!", que hoje é lançada, Manuel Alegre sublinha que "não é possível passar do laxismo anterior a um excesso de burocracia conjugada com facilitismo".
"Governar para as estatísticas não é reformar", defende, alertando para o facto de "a falta de exigência da Escola Pública" pôr "em causa a igualdade de oportunidades".
Sobre as declarações da ministra Maria de Lurdes Rodrigues sobre a manifestação dos professores que no sábado juntou milhares docentes em Lisboa, o ex-candidato presidencial considerou que a responsável teve uma "linguagem imprópria de um titular da pasta" e "incompatível com uma cultura democrática", ao avaliar a manifestação como uma forma de intimidação ou chantagem.
Admitindo que o ministério possa ter razão em alguns pontos, Manuel Alegre defende que "é preciso saber ouvir e dialogar": "É preciso perceber que, mesmo que se tenha uma parte de razão, não é possível ter a razão toda contra tudo e contra todos. Tal não é possível numa Democracia".
No editorial, o ex-candidato presidencial compara a mudança ocorrida nos Estados Unidos, com a eleição de Obama, à estagnação da situação em Portugal, em parte provocada pela formação das pessoas que está a ser afectada pelo "clima de tensão permanente entre o Ministério da Educação e os Professores", de "ambiente de incompreensão entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior e as universidades".
"Num país como o nosso, o que faz mudar é a formação das pessoas, a educação, a cultura, a comunicação, a produção e a divulgação científica, a inovação tecnológica e social", defende.
No número colocado hoje nas bancas escrevem diversos professores, investigadores, actores institucionais e deputados como Alberto Amaral, Elísio Estanque, Nuno David, Francisco Alegre Duarte, Almerindo Afonso, Jorge Martins, a ex-secretária de Estado da Educação Ana Benavente e Teresa Portugal.
O ministro dos Assuntos Parlamentares desafiou hoje o deputado socialista Manuel Alegre a aplicar a sua teoria da "cultura democrática" aos sindicatos dos professores, que o Governo acusa de terem desrespeitado um acordo que assinaram livremente.
"Convido o deputado Manuel Alegre a aplicar esse mesmo critério da cultura democrática ao comportamento das direcções dos sindicatos dos professores, que em Abril assinaram com o Governo um memorando de entendimento e agora em Novembro organizaram uma manifestação contra um acordo que assinaram livremente", declarou Augusto Santos Silva.
Esse acordo, segundo Santos Silva, previa a aplicação de "um modelo de avaliação simplificado a todos os docentes contratados que precisavam de ser avaliados no ano lectivo passado - e isso fez-se".
"Constituiu-se também uma comissão paritária de acompanhamento do processo de avaliação, que está constituída. Pelo mesmo acordo decidiu-se que seria aplicado o primeiro ciclo de avaliação neste ano lectivo, e que em Junho e Julho se abririam negociações para introduzir eventuais ajustamentos que o processo de avaliação demonstrasse necessários", acrescentou o membro do Governo.
Contudo, na opinião de Augusto Santos Silva, "os mesmos sindicatos que assinaram este acordo dizem agora que não é para ser cumprido e mobilizam as pessoas para o desrespeitarem".
"O mesmo teste da cultura democrática e do diálogo social [que defende Alegre] deveria ser aplicado às direcções dos sindicatos dos professores", reforçou o ministro dos Assuntos Parlamentares.
Augusto Santos Silva disse ter lido "com toda a atenção" a posição de Manuel Alegre sobre a necessidade de se "ouvir as pessoas e dialogar com as pessoas", mas concluiu que o Governo já segue essa prática.