Também o balanço sobre a Igreja não passou sem um longo corte, que enumerava, entre outros episódios, "o caso da Capela do Rato, a propósito da celebração do Dia da Paz (...) e ainda a tão falada homilia do padre Mário, de Macieira de Lixa, agora em julgamento".
O balanço cinematográfico (de António Pedro Vasconcelos) levou cinco cortes; o de teatro (José Barreiros), três; o relativo à música popular portuguesa (Pedro Pyrrait), um. Na área da literatura, havia vários balanços: E. M. de Melo e Castro levou dois golpes, Pedro Tamen um. "O reduzido público leitor português (...) não perde pitada dos livros que lhe expliquem brevemente o que é isto, porque é que é isto, e como vai ser isto. Em todo o caso, isto. E se juntar à informação que pretende o quanto-baste de escândalo ou de humor, melhor. Às vezes, o riso, mesmo entre as quatro paredes do quarto em que se lê, é tragicamente a única possível forma de defesa. Ou de tendencial ataque".
A instabilidade militar continuava a alimentar uma coluna dedicada ao assunto e que levou sete cortes. "A legislação pela qual se regem actualmente os quadros do Exército é já velha de cerca de trinta anos e nela reside a própria origem das desigualdades nas promoções das armas e o seu atraso geral em todo o Exército, com raras excepções". Proibida foi a notícia acerca da aquisição, pela GNR, de "cerca de 40 viaturas ligeiras blindadas 'Shortland', pelo valor de 55 mil contos. Esta operação provocou por parte da Bravia uma forte reacção, baseada no facto de não ter havido qualquer concurso público".
Pela quarta semana consecutiva, a coluna 'Visto', de Sá Carneiro, foi tão borrada de azul, que nada saiu. Também dois editoriais levaram pequenos toques. Um deles vitimou o próprio título: "Portugal depois de Franco", obrigado a mudar para "Espanha e Portugal". No seguimento do assassínio de Carrero Blanco, declarações de um representante da ETA levaram um corte. "Rejeitam os atentados de tipo puramente terrorista. 'A nossa acção, afirmou, será caracterizada pela selectividade. Dirigir-se-á apenas para os verdadeiros culpados. Preparamo-nos para uma luta muito dura'". A zanga de António Champalimaud com o Governo a propósito de novas cimenteiras levou dois cortes. Dizia o rei do cimento que "os estados chamados civilizados usam tratar os seus súbditos com equidade perante a lei, a qual deve ser essencialmente de aplicação genérica e abstracta, regendo para o futuro e não com efeitos retroactivos". Os advogados José Manuel Galvão Teles e Vítor Wengorovius tentavam responder - sem sucesso - a uma nota oficiosa da DGS sobre os crimes atribuídos a Nuno Teotónio Pereira. "O conteúdo da nota representa uma clara e inequívoca violação do segredo de justiça". Nas Cartas, Sottomayor Cardia comentava uma local do Expresso, anunciando a sua adesão ao PS. "Eu, que não tenho vocação de herói, sou, como sempre fui, um socialista sem integração partidária", assegurava Cardia, que sugeria ao director "que chame a atenção dos seus redactores para a circunstância de o Expresso se publicar em Portugal".
Fábula de Natal
"Naquele Natal, fazia mesmo frio no feudo". Assim começava a fábula natalícia da secção Gente. "Reunidos em torno da lareira os quatro cavaleiros meditavam. Dizia um: - O tempo vai mal, cabe-nos dizer uma palavra. Dizia outro, cheio de presunção: - Sim, porque nós somos a fina flor do feudo, a elite dos seus defensores.Os outros dois, calados, anuíam (...) Mas no feudo tudo se sabia, sobretudo entre a elite dos cavaleiros do Senhor. E um deles, homem afamado conhecido pela sua valentia e pela sua decisão, soube por alguns dos subalternos dos planos (...) dos seus quatro camaradas de ofício". Esta fábula nunca viu a luz do dia...
Casas do Povo
Um abaixo-assinado de trabalhadores rurais protestava contra o aumento das cotas pagas às Casas do Povo. Excluído um único elemento: que a exposição "foi enviada ao presidente do Conselho".