ARQUIVO O que a censura cortou

Jesuítas abandonam Lourenço Marques

Presos dois padres que recusam ser capelães militares. Metalúrgicos pedem um salário mínimo de seis contos.

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Em litígio aberto com o arcebispo de Lourenço Marques, a Companhia de Jesus retirou-se da capital de Moçambique. Em causa, um diferente entendimento quanto à forma de actuar no território e de lidar com a guerra colonial. O Expresso de 26 de Janeiro de 1974 tentou publicar a carta do responsável dos jesuítas em Moçambique, o padre Joaquim Ferreira Leão, a anunciar a retirada dos seus homens.

"Transcrevemos na íntegra (...) o significativo e sintomático documento da autoria do vice-provincial da Companhia de Jesus, em Moçambique, esclarecedor de um dos muitos aspectos da crise que opõe mentalidades contrastantes no seio da Igreja Católica. Neste caso, vamos encontrar de um lado o arcebispo de Lourenço Marques e do outro a acção dos padres jesuítas, com particular relevância para um deles, o padre Novais, que D. Custódio Alvim Pereira exigiu fosse expulso de Lourenço Marques. O facto pelas suas incidências levou por agora ao cancelamento das actividades daquela ordem religiosa na capital do Estado Português do Índico".O contundente documento merecia uma chamada de primeira página, mas o Exame Prévio tudo silenciou.

Aliás, Moçambique estava em polvorosa, muito por causa das sequelas do massacre de Wiriamu. Na Beira, as manifestações de parte da população branca contra os militares levaram três cortes. "Os manifestantes apedrejaram a messe dos oficiais, partindo vidros. A polícia tomou medidas para impedir a passagem dos carros vindos do centro da cidade". "Um grupo de jovens motociclistas foi conduzido para a esquadra da Beira onde esteve retido durante uma hora".

A situação era tal que até uma breve sobre o mais recente levantamento do número de mortos em combate foi proibido: "Segundo o Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, teriam morrido em combate, no período de 19 a 25 do corrente, dez militares do Exército português em Moçambique; três na Guiné e umem Angola".

Não foi assim de estranhar a recusa de dois sacerdotes em integrarem as fileiras do Exército como capelães. Detidos, a notícia foi cortada na íntegra. "Encontram-se presos no Quartel-General da Região Militar do Porto os padres José Maria Pacheco Gonçalves e José Rodrigues, detidos no passado dia 18 na residência paroquial do Padrão da Légua (Matosinhos) por uma força da GNR. Os dois sacerdotes tinham sido convocados para a prestação do serviço militar como capelães do Exército, mas não compareceram, enviando, no entanto, um documento justificativo da sua opção. Já há dois anos, 41 padres da dioceses do Porto enviaram ao Vaticano Castrense e à Nunciatura, em Lisboa, um texto em que analisavam a situação dos capelães militares".

A coluna sobre ensino abria com um abaixo-assinado de "mais de 5000 professores do ensino preparatório e secundário, liceal e técnico", dirigido ao ministro Veiga Simão. Os signatários reclamavam "uma pronta actualização de vencimentos", já que os actuais "não lhes permite fazer face às obrigações e necessidades da sua profissão, situação que acarreta desinteresse e desânimo, esgotamento físico e psíquico, fuga de reais valores da função docente em busca de melhores condições de trabalho e maiores possibilidades de realização". O texto foi riscado na sua totalidade, bem como mais uma crise num liceu. No caso, o Garcia da Orta (Porto), cujo reitor, Adriano Vasco Rodrigues, se demitiu, na sequência da "suspensão preventiva de 14 alunos de uma turma que assumiram uma posição crítica em relação aos métodos e determinadas atitudes de uma professora de Inglês".

A revisão do contrato dos metalúrgicos levou um corte. Entre as principais reivindicações incluía-se um "salário mínimo de 6000$00".

"Aumento de 20% no preço dos adubos e abertura para mercado livre no princípio de Julho". Este título foi reduzido a "Aumento do preço dos adubos".

Um editorial elogiava a visão africanista de figuras como Norton de Matos, Paiva Couceiro e António Enes. Saltou o derradeiro parágrafo: "Dos outros, aHistória dirá da cegueira, do dogmatismo e do imobilismo com que ficaram definitivamente caracterizados perante um dos momentos mais difíceis da existência colectiva".