Durante anos, ouvi pessoas falarem de séries extraordinárias, recentemente estreadas nos EUA, e que eles já tinham visto. Uma dessas séries chamava-se Big Love e era sobre uma família de polígamos. Um dos episódios que me contaram (sim, contavam-me episódios inteiros, e eu ouvia com apetite) tinha uma história hilariante. Evidentemente, a série era retirada da Internet. Constava que nem sequer se tratava de algo particularmente difícil de fazer. Os programas necessários estavam disponíveis - gratuitamente -, e depois era só uma pessoa entrar no site, inscrever-se (sem necessidade de dar informação demasiado concreta ou verdadeira), procurar os programas desejados e começar a descarregar.

O parágrafo anterior dá uma razoável ideia do analfabetismo tecnológico do seu autor. Quem diz analfabetismo diz inércia. Suponho que o verdadeiro motivo por que nunca fiz "downloads" foi menos por um legalismo intransigente do que a pura e simples preguiça. Durante anos falava-se disso sobretudo em relação à música, e eu nunca achei que para mim se justificasse fazê-lo. Já quanto a séries... O desejo de ver algumas era forte, mas nunca calhou, e ainda bem. De resto, sempre achei que se algum dia precisasse de ver alguma havia de encontrar quem ma arranjasse.

Que as séries se tenham tornado objecto frequente de "downloads" é indicativo do estatuto que têm vindo a adquirir. Enquanto elemento da cultura popular, não havia razão para pensar que pudesse ser de outra forma. Mas elas têm vindo a tornar-se cada vez mais desejáveis. Hoje, na Fnac e noutros lugares onde se vendem DVD, as séries ocupam cada vez mais espaço. Os próprios videoclubes já alugam DVD de séries, o que não faziam há uns dois anos. Não é muito barato, aliás.

A apetência pelos DVD está em relação directa com os extras que oferecem. Algumas séries são bastante aptas a explorar isso, e também os respectivos prolongamentos na Internet, indo ao ponto de apresentar lá personagens a que os episódios originalmente transmitidos apenas aludiam, por exemplo. Hoje em dia não se pode ter demasiada imaginação a explorar as diversas plataformas, ou elementos de plataforma, onde o "conteúdo" pode ser usado, continuado ou, para citar a expressão da moda, "enhanced" (intensifiado).