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Californication e outras histórias

A quantidade - e a qualidade! - das séries que estreiam por estes dias é notável.

Californication, estreado no passado dia 31 de Janeiro, pode não ter um nome particularmente feliz, mas é um pouco mais subtil do que o nome sugere. Esta série, à qual se refere a imagem que abre este dossiê, trata de um protagonista que tem uma vida aparentemente deliciosa - com alguns rendimentos, tempo livre, uma circulação sexual bastante vigorosa, etc. -, mas nem por isso escapa às angústias da vida. Ninguém escapa, e muito menos em séries dramáticas da televisão americana. No caso de Hank Moody, o protagonista de Californication (adequadamente encarnado por David Duchovny, a quem Hollywood salvou de uma carreira como professor de literatura), é um escritor que teve um livro que foi um sucesso e está a tentar escrever outro. Aos 40 anos, encontra-se separado da sua namorada, de quem ainda gosta, e tem uma filha de 12 anos. A série é mais explícita do que o habitual (incluindo uma cena onde há sexo oral e uma freira), o que lhe valeu ser criticada por grupos conservadores, mas isso não chegará para a tornar extraordinária. De qualquer modo, parece interessante q.b.. Não tanto pelo "sexo, droga e vómitos" de que um grupo se queixava, mas por razões mais substanciais.

Outras séries da FOX agora estreadas ou a estrear incluem Prison Break, Ossos, e Mal-Me-Quer, Bem-Me-Quer. A segunda é mais uma série no género forense, desta vez focada em ossos. A terceira é uma fantasia sobre um jovem que descobre ter o poder de ressuscitar os mortos com o toque. Infelizmente, só depois de ter ressuscitado a mãe, e de lhe ter depois dado um beijinho, é que descobre que se tocar uma segunda vez nos ressuscitados eles morrem. De qualquer modo, o seu dom pode ter utilizações lucrativas. Um investigador sugere-lhe que acorde vítimas de assassínio apenas o tempo suficiente para lhes perguntar quem as matou, antes de as voltar a matar. Uma vez feito isso, os dois dividirão a recompensa.

O tema dos poderes sobrenaturais está na moda, como se vê por séries como Heróis, que arranca dia 19 (na Fox). A par com os géneros policiais e os médicos, é dos que tem permitido mais variações. De resto, a forma da série é suficientemente flexível para permitir mesmo o eventual regresso de géneros que julgaríamos extintos, como o western (Deadwood). As séries que realmente fazem sensação chamam-se Lost ou 24: produções espectaculares com elementos inovadores, e uma capacidade mais ou menos constante de gerar notícias.

No caso de Lost, sabemos que foi o episódio-piloto mais caro de sempre, custando algures entre 10 e 14 milhões de dólares. Curiosamente, o executivo que a encomendou foi despedido exactamente por ter assumido uma tal despesa e risco. Não sabemos se o voltaram a convidar depois de o programa se tornar um enorme êxito.