Tita e Gui são um casal de reformados; andam pelos 60, ele um pouco mais velho do que ela. Estão na sua casa, talvez mesmo na sua sala. É uma casa sossegada, onde esperam gozar do resto das suas vidas. O silêncio terá sido aquilo que mais fortemente guiou a escolha; o silêncio e o jardim, as flores na primavera e no verão. Sabela é uma jovem estudante, galega, que vive temporariamente lá em casa. Está em cena de vez em quando, e fala, essencialmente, quando é interpelada. Tita e Gui mantêm uma conversa, entre eles e para um auditor que será o público, ou cada uma das pessoas do público, no modo da conversa que se faz para quebrar o silêncio e a solidão. Tita fala mais do que o marido, num discurso que é uma das muitas maneiras que as pessoas têm para falar das suas vidas, e para tentar dar dessas vidas uma imagem que, de alguma maneira, legitime aquilo que são e, principalmente, uma vida inteira na qual poucas mudanças poderão já existir.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.