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Entrevista a Peter Sloterdijk, um dos maiores filósofos vivos: “O mundo é um lugar onde podemos ser magoados”

É um dos maiores filósofos vivos, alemão, herdeiro assumido de Nietzsche, prolífico num corpo de obras que desafiam o pensamento. Pós-humanista, fenomenólogo, grande polemizador, conversou com o Expresso numa esplanada de Lisboa

No lóbi do hotel que o acolhe em Lisboa, a sua figura não passa despercebida. De repente, do elevador sai um gigante loiro e despenteado, de bigodes finos, que do alto da sua estatura estende a mão. É Peter Sloterdijk, numa tarde de sábado, de ar abstraído, a abrir caminho entre os turistas, a sorrir difusamente perante a confusão momentânea de não haver um lugar onde pousar para a conversa, até se escolher a esplanada onde pede para ficar de costas para o sol pois o olhar azul-claro não pode com tanta luz. O pormenor engraçado é a luz dele, que encandeia, a voz baixa de barítono e o tom quase sussurrado, a forma como se ri do que vai dizendo, por simples cordialidade e porque o humor tem muito a ver com a filosofia.

Foi há 40 anos que escreveu a “Crítica da Razão Cínica”, segundo ele uma “fenomenologia das piadas inerentes à condição humana”, que permanece vigente na sua definição do cinismo como um cair das máscaras da verdade humana. Foi também autor de obras que desafiam até ao extremo a leitura e o pensamento, como “Tens de Mudar de Vida”, “Depois de Deus”, “Cólera e Tempo”, “O Estranhamento do Mundo” (Relógio D’Água), as “Regras para o Parque Humano” (Angelus Novus) e a trilogia “Esferas” (a sua magnum opus, não traduzida para o português), entre muitas outras. É um dos mais importantes filósofos vivos, nascido em Karlsruhe em junho de 1947, nos escombros do pós-guerra alemão, formado em Munique e doutorado em Hamburgo, admirador de Nietzsche, fenomenólogo e polemista acidental, admirado por Jürgen Habermas, e depois por este violentamente criticado, criador de conceitos como “esfera”, “antropotécnica” ou “coimunidade”.