Exclusivo

Cultura

O que são os problemas perversos? Conhecemo-los bem neste momento que vivemos

Escapam ao contorno regular de um sólido e concreto problema, identificável, linear, circunscrito

Guta Moura Guedes

Na semana passada fui júri do German Design Award 2022. No segundo dia de trabalhos dei uma entrevista a uma editora e jornalista alemã e foi ela que me trouxe à lembrança um fundamental, mas talvez pouco conhecido em Portugal, teórico do design, o alemão Horst Rittel, nascido em Berlim em 1930. Tendo estudado matemática e física, Rittel passou a maior parte da sua vida como educador, ensinando princípios científicos e de engenharia para designers e arquitectos em Berkley, tendo mudado o campo do design, ligando-o com a política e a ciência e lançando bases para o que viria a ser, mais tarde, o design thinking. É em 1973, em conjunto com Melvin Webber, que introduz o conceito de wicked problems / problemas perversos.

E o que são os problemas perversos? Conhecemo-los bem neste momento que vivemos. São problemas que escapam ao contorno regular de um sólido e concreto problema, identificável, linear, circunscrito. São problemas pouco claros. E se por um lado não são dados a serem facilmente descritos e enunciados, por outro, são dificilmente solucionáveis. São problemas que estão muitas vezes sujeitos a limitações concretas do mundo físico global e que não possuem uma lógica e articulação visíveis. Segundo os próprios autores os problemas perversos têm as seguintes características: não possuem formulação definitiva; carecem de uma lógica inerente que sinaliza quando são resolvidos; as suas soluções não são verdadeiras ou falsas, mas apenas boas ou más; não se conseguem testar as soluções; não podem ser estudados por tentativa e erro, ou seja, as soluções são irreversíveis; não há fim para o número de soluções ou abordagens para um problema perverso; são tendencialmente únicos; podem sempre ser descritos como o sintoma de outros problemas; a forma como o problema é enunciado determina suas possíveis soluções e, para terminar, aqueles que apresentam soluções para esses problemas não têm o direito de estar errados, pois as consequências das mesmas podem ser dramáticas para as pessoas que são por elas envolvidas. Este termo e esta definição foram introduzidas em 1973 como forma de dar atenção às complexidades e desafios de abordar problemas de planeamento e política social e de que forma é que o design poderia fornecer soluções adequadas a estes contextos. É neste momento que, em vez de se focar nos métodos científicos que poderiam absorver todas as complexidades aparentes e afastando-se dos ideais do designer único, Rittel defende um processo participativo no qual os designers trabalhem em conjunto entre si e com outros grupos, especificamente os utilizadores, formulando toda uma nova direcção para a própria disciplina. Extraordinário.