Perdemos Jorge Sampaio, um homem bom, um dos nossos grandes políticos e um dos nossos Presidentes da República. Não é por o ter conhecido e por gostar dele a nível pessoal que escrevo, mas sim por causa do significado que a cultura pode ter ou não para um político, neste caso, um político com um cargo maior, o de Presidente de um país. São raros os políticos que entendem a cultura. São raros também os políticos cultos, pese embora uma coisa não implique a outra. Jorge Sampaio tinha as duas valências e isso marcou a sua carreira, a sua presidência, para nossa sorte, mas também o trabalho que desenvolveu após essa presidência.
Sendo um homem culto, era conhecida a sua paixão pela música clássica. Recordo-me de o receber no Centro Cultural de Belém, enquanto administradora dessa instituição, nos Dias da Música. Jorge Sampaio não só fazia questão de ir à inauguração como também a vários dos concertos que aconteciam durante aqueles dias. Muitas vezes reservado e pouco dado a grandes manifestações, lembro-me de notar como se transformava fisicamente, como resplandecia, deixando que esta forma de arte o contaminasse, é isso que a arte faz a quem a sabe a ela entregar-se. Quando cheguei à Casa da Música, em 2008, como uma das directoras, fui ler excertos do discurso de inauguração que o então Presidente da República Jorge Sampaio fez e revi nas palavras que disse esse profundo entendimento sobre a cultura em geral, e sobre a música, especialmente. Mas o que sempre me interessou neste político português foi o facto de ter a certeza que ele a entendia como um dos quatro pilares do desenvolvimento sustentável, a par dos vectores ambientais, económicos e sociais. E que a sabia determinante para algo que lhe era particularmente caro: a liberdade e a justiça. Não há liberdade nem justiça sem cultura e Jorge Sampaio sabia-o.