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Cultura

150 anos das Conferências do Casino. Portugal e a urgência da Europa

Um projeto cultural e cívico interrompido pelo Governo e ameaçado com a repressão da polícia por atacar a religião católica e atingir a estabilidade das instituições públicas e os fundamentos do Estado português. Foi há 150 anos

António Valdemar

A situação política, social e cultural que se vive no presente e a ambição de construir perspetivas para o futuro constituíram sempre uma das finalidades de cada geração, sejam quais forem as motivações ideológicas. As Conferências Democráticas do Casino — que surgiram há 150 anos e foram proibidas pelo Governo, contavam com a repressão da polícia — inserem-se num projeto de mudança que se iniciou na segunda metade do século XIX, percorreu todo o século XX e continua a exigir reflexão, mesmo depois de restituídas as liberdades constitucionais e formalizada a integração de Portugal na Europa.

Tiveram origem no Cenáculo, um nome mítico que passou para a história e a pequena história. Era a casa de Jaime Batalha Reis, primeiro, no Bairro Alto, na Travessa do Guarda Mor, hoje Rua do Grémio Lusitano, próximo da sede da Maçonaria; depois transferido para outro prédio, defronte do Jardim de São Pedro de Alcântara. Recebia amigos com objetivos comuns e que desejavam prosseguir, na área política e e no domínio social, a oposição literária contra Castilho e os seus discípulos. Reunia Antero de Quental, Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Salomão Sáraga, Lobo de Moura, Santos Valente, Adolfo Coelho, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini e Manuel de Arriaga. Embora residindo fora de Lisboa associaram-se outras personalidades: Oliveira Martins, Teófilo Braga e Guilherme de Azevedo.