Campeão de nomeações neste ano de 2021 (10, nada menos), “Mank” parece poder ir sair da cerimónia dos Óscares sem qualquer estatueta, pelo menos nas mais importantes categorias. Mais uma desfeita à Netflix ou os supostos méritos do filme foram inflacionados para lá dos merecimentos? “Mank” é o tipo de filme com tudo o que é preciso para ser considerado um objeto artístico, ou seja, oscarizável. É formalmente exuberante, tem uma história envolvente, um personagem central excessivo (sempre ideal para um bom ator brilhar, é o que faz Gary Oldman) e um tema caro aos agentes cinematográficos, já que se centra no próprio cinema. Neste caso, a génese do argumento do filme inicial de Orson Welles, “O Mundo a Seus Pés”, feita por Herman Mankiewicz.
É sobre este escritor — muito menos conhecido do que o seu irmão mais novo, Joseph L. Mankiewicz — que se foca o olhar de David Fincher, de tal modo que quase se poderia dizer que o seu ponto de vista é o do personagem. E o que nos diz? Que o autor inteiro do argumento é Mankiewicz e que, no fundo, Welles se aproveitou de um homem talentoso numa situação de desemprego e de dependência alcoólica graves ao ponto de aceitar contratualmente escrever o filme e não ter o seu trabalho creditado no genérico. Considerações delicadas, sobretudo porque “O Mundo a Seus Pés” não é uma obra qualquer. É mesmo um marco miliar no curso do cinema e na experiência cinematográfica de qualquer pessoa.