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Cultura

Os Óscares 2021 reagem à realidade. Na América, é com violência que ela se escreve

Francisco Ferreira, crítico do Expresso, reflete sobre a influência da realidade norte-americana nas escolhas da Academia para os Óscares. "Definitivamente, Hollywood desceu à Terra em 2021", considera

Chadwick Boseman em "Ma Rainey: A Mãe do Blues"
David Lee/NETFLIX

Minneapolis, 25 de maio de 2020: George Perry Floyd Jr. é travado pelas autoridades por ter alegadamente usado uma nota falsa de 20 dólares num supermercado e acaba por morrer sufocado contra o solo, estrangulado pelo joelho de um polícia. A agonia de 8 minutos e 46 segundos é filmada por uma câmara de telemóvel, assassínio ‘em direto’ que, instantes depois, chega à internet e às redes sociais.

O ambiente político na América está em brasa nesse último ano de mandato da Presidência Trump, o mundo não tarda a reagir a mais uma violação dos direitos humanos e ao racismo associado ao caso — e também o cinema responde de imediato, pela mão do indignado Spike Lee, que lança no YouTube uma curta-metragem contundente. Minnesota, 11 de abril de 2021: outro homem negro, Daunte Wright, 20 anos, é abatido a tiro após uma operação stop. O agente que dispara confessa na manhã seguinte ter sacado da arma por engano. Novos protestos antirraciais contra a brutalidade policial estalam em frente daquela esquadra e, à data em que se escreve, continuam a reunir centenas de pessoas, todas as noites.