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Isabel Allende: “A minha juventude acabou quando a minha filha morreu”

Tem 20 romances publicados e vendeu mais de 70 milhões de livros. Agora, lançou um sobre feminismo, em que, aos 78 anos, fala num tom pessoal do que foi e do que é ser-se uma mulher. E dos passos que ainda faltam dar

Leonardo Cendamo/Getty Images

Aparece às 10 da manhã, hora da Califórnia, com o cabelo impecável, bem vestida e maquilhada. Mesmo tratando-se de uma conversa por Skype, não deixou de se apresentar, como ela diz, “o melhor possível”. Todos os dias repete esse ritual de não se abandonar à natureza, embora seja uma mulher que aceita o envelhecimento e fala dele abertamente (como se verá). O pretexto para a conversa era o livro “Mulheres da Minha Alma” (Porto Editora), acabado de lançar. O título sugere um tom pessoal e biográfico, mas a escritora vai mais longe, adentrando-se no campo do feminismo, da necessidade de o continuar a defender e a pensar num mundo ainda dominado pelos homens. Sobre isto tratou também a conversa com o Expresso, na qual não faltou abordar a Fundação que criou em memória da filha, para contribuir para a capacitação feminina. Com 20 romances publicados e mais de 70 milhões de livros vendidos, ela é a escritora de língua espanhola mais lida do mundo. Isabel Allende, de 78 anos, chilena nascida no Peru, prima de Salvador Allende, é uma mulher afável e de riso aberto, que fala sem rodeios e com quem é fácil sentir proximidade.

O livro fala de feminismo. Quando começou a ter essa consciência?
Foi uma descoberta precoce. Deve ser exagero, mas segundo a minha mãe eu já era feminista aos 5 anos — embora o feminismo como tal não existisse no Chile, pelo menos no meio em que eu vivia. Havia sufragistas, mulheres que tinham conseguido avanços em termos da legislação, mas não se chamavam feministas. O que senti muito cedo foi uma rebeldia contra a autoridade masculina, porque via a minha mãe numa posição vulnerável. Ela tinha sido abandonada pelo marido, com três crianças; a maior (que era eu) tinha 3 anos, o mais pequeno era recém-nascido. O meu pai não conheceu este filho. A minha mãe, uma jovem sem preparação para trabalhar, criada num tempo em que as mulheres dependiam do pai e do marido, encontrou-se sozinha com três filhos aos 24 anos.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.