Como é que Susan Rosenblatt, jovem desamparada vinda da América provinciana, se transformou em Susan Sontag, símbolo do intelectual moderno, sofisticado e cosmopolita? A biografia de Benjamin Moser, de 2019, vencedora este ano do Pulitzer, tem uma tese. Inteligente, enérgica, carismática, Sontag ultrapassou as desvantagens de ser órfã de pai (usava o apelido do padrasto), de ter uma mãe alcoólica e egoísta e de viver em Tucson escolhendo a literatura como salvação e reinvenção. Em 1949, aos 16 anos, já professava opiniões veementes sobre Schopenhauer, já lera vários volumes da Modern Library e já tinha visitado Thomas Mann na sua casa da Califórnia, ouvindo-o discorrer sobre o “fáustico” e o “demoníaco”.
Poderia ter seguido a carreira académica, até porque muitos professores garantiam nunca ter conhecido uma aluna tão brilhante, mas andou de universidade em universidade (Berkeley, Chicago, Harvard, Oxford) sem se adaptar a nenhuma, talvez porque em todo o lado a viam com alguma suspeita, provavelmente por ser mulher e judia. Ainda assim, foi nos anos da universidade que Susan se casou, que teve o seu único filho e que se estreou como escritora. O homem com quem casou, um universitário chamado Philip Rieff, pareceu-lhe primeiro um colosso mental e depois um reaccionário mesquinho. Educou o filho, David, para ser um Miguel Ângelo, mas exigia muito dele e dava-lhe pouco. E quanto ao livro sobre Freud que terá redigido sozinha (ou assim garante Moser), quem o assinou foi o marido.
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