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Expresso

Cultura

A brutalidade dos homens frágeis

Ele ostentou ao mundo como o número 2 de um presidente pode mandar tanto ou mais que o líder. Dick Cheney pensou a invasão no Iraque. E não está arrependido

Marta Gonçalves

Ele está numa cadeira de rodas e com uma bengala na mão.

Tem excesso de peso e as costas dobradas, envelhecidas.

Os cabelos são brancos e a pele enrugada.

O coração falha-lhe várias vezes.

Dick Cheney é o retrato da fragilidade (aparentemente). Nesse dia tiraram-lhe o poder. Mas não é por isso que estava assim, caiu enquanto acartava algumas caixas para a casa nova. A pouca saúde de Cheney é informação mais do que conhecida por todos os que ali estavam presentes nesse dia histórico para os EUA - e também para o mundo: Barack Obama tomava posse e George W. Bush e Cheney saíam da Casa Branca como os menos populares da história da democracia norte-americana.

“É um homem que tinha - e continua ter - grandes problemas cardíacos e que parecia estar sempre meio adoentado. O contraste entre o aspeto físico e sua influência no processo de decisão na Casa Branca é brutal. Quem o visse, à primeira vista, julgaria que se tratava de alguém doente e marginal. Não o foi”, diz Miguel Monjardino, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. Não foi mesmo. E “Vice” mostra-nos o poder que um número dois pode ter. A Cheney chamam-lhe “o mais poderoso de todos”.

Dick Cheney com Joe Biden e Barack Obama, em 2008, na tomada de posse do novo presidente
Charles Ommanney/ Getty Images

Nos oitos anos de administração, Bush e Cheney enfrentaram os atentados de 11 de Setembro de 2001. Nunca a soberania de um país tinha sido atacada daquela forma, nunca um grupo terrorista tinha sequestrado três aviões e voado em direção ao World Trade Center e ao Pentágono (um o local de emprego de milhares de norte-americanos e símbolo da cidade de Nova Iorque, o outro a sede do Departamento da Defesa).

“Acho que as pessoas dizem que Cheney foi um vice-presidente único em termos de influência e de poder por causa do 11 de Setembro e da guerra do Iraque. A guerra muda tudo”, defende Monjardino. “Ao longo da história, qualquer grande potência que é atacada como os EUA tende a querer repor a sua credibilidade e, por isso, reage desproporcionalmente. Praticamente toda a elite política da altura olhou para o problema da mesma forma: o Afeganistão era um teatro secundário e, do ponto de vista geopolítico, o Iraque era decisivo para mostrar credibilidade e resolver o problema de Saddam Hussein. No entanto, a decisão foi de Bush e dos seus conselheiros.” Cheney é o grande estratega por trás das grandes decisões que tiveram o aval do presidente. É o arquiteto e a figura-chave no endurecimento da política externa norte-americana.

Todo o mundo ouviu George W. Bush comunicar que os EUA iam entrar na “guerra mundial contra o terrorismo” pouco depois do atentado. A expressão que havia de ficar para a história pelos acontecimentos que desencadeou foi dita por um homem mas a autoria foi atribuída a outro: Dick Cheney.

“Hoje temos a distância para perceber, mas talvez na altura não. Pensou-se que haveria ataques biológicos, químicos ou nucleares contra os EUA. Em parte, isso explica a enorme dureza da resposta norte-americana. Mas também explica, no caso do Iraque, que toda a elite política democrata no congresso apoiou a invasão”, diz ao Expresso Monjardino.

As reações dentro da Casa Branca ao 11 de Setembro são retratadas no filme
Annapurna Pictures

Outra das marcas de Cheney foi a forma como mandou conduzir os interrogatórios a suspeitos de terrorismo, que admitiu todas as formas possíveis de investigação. “Na questão dos direitos, liberdades e garantias, a administração Bush - como todas as administrações em tempo de guerra, e muita vezes esquecemos esta parte - tomou decisões claramente além da Constituição. Isso é inegável e a influência de Cheney é muito, muito forte. A sua posição foi sempre duríssima: tudo deve ser feito para garantir a segurança dos EUA. E tudo era mesmo tudo”, argumenta Monjardino. Também no tema das alterações climáticas, lembra Monjardino, impossibilitou um maior desenvolvimento de políticas para lidar com algo que começava a ser falado e motivo de alertas.

“Cheney sabia, pela sua longa experiência no Congresso e como altíssimo funcionário na Casa Branca, como o sistema político e burocrático funcionava e isso era uma enorme vantagem no processo de decisão. Tirou muito partido disso”, conta Monjardino. Cheney estagiou no Congresso durante a presidência de Richard Nixon, representou o Wyoming na Câmara dos Representantes e foi secretário da Defesa de George H. W. Bush (conhecido como “Bush pai”). Pelo meio, aquando de lideranças democráticas, passou por grandes empresas norte-americanas como CEO.

Na reeleição, tudo muda. Com uma administração mais moderada do que a primeira, “Bush começa a ter consciência clara de que cometeu um erro grave [com a guerra do Iraque] e mudou a sua posição. Cheney, no entanto, opôs-se sempre a essas mudanças e isso parece-me ser um sinal de uma divergência importante”, refere Monjardino. “Cheney é uma excelente personalidade para discutir os meios e os fins numa sociedade livre.”

Os atores Christian Bale e Sam Rockwell
Annapurna Pictures

Numa visita às tropas no Afeganistão tentaram matar Cheney. 27 de fevereiro de 2007, 10h. Um bombista-suicida fez-se explodir no exterior da base militar de Bagram Airfield, no nordeste do país. Morreram 23 pessoas e 20 ficaram feridas. Nenhuma delas era Cheney - e não há dúvidas de que ele era o alvo. Os EUA garantem que o ataque foi planeado e supervisionado por Osama Bin Laden, líder da Al-Qaeda.

Um republicano a favor do casamento homossexual

Richard Bruce Cheney chegou à Casa Branca a convite de George W. Bush. Eram amigos e estavam alinhados sobre a distribuição de poderes. A relação entre ambos era “quase única”, diferente daquela que têm naturalmente um presidente e um vice. Em Cheney não havia qualquer pretensão de ser o líder dos EUA - o que não é muito comum e é preciso recuar até 1928 para encontrar uma eleição presidencial norte-americana em que nem o presidente nem o vice foram candidatos. E essa não competição favoreceu-os.

“Não quero ser mal interpretado, Donald Trump é deprimente e irritante e, essencialmente, pusemos um orangotango bêbedo na Casa Branca. Mas ele não está minimamente próximo de causar os danos que estes dois provocaram. Estes dois eram muito espertos e sabiam bem o que estavam a fazer”, defendeu Adam McKay, realizador de “Vice”, em declarações ao “Daily Beast”.

Cheney também escolheu os nomes da administração para ocupar alguns dos cargos mais importantes: o secretário do Tesouro, o procurador-geral de Estado, a diretora da agência para o ambiente, secretário da Defesa. Portanto, soube rodear-se de quem queria e precisava, tendo apenas de responder a um homem que era pouco experiente e que confiava em si.

Nesses tempos acordava às 04h30 para ler. Recebia antes de todos os documentos com o ponto de situação das várias missões e casos sob investigação dos serviços secretos. Mesmo antes de Bush. Aliás, era ele que identificava os assuntos que deveriam chegar ao conhecimento do presidente - segundo a versão cinematográfica da história, esta foi uma das condições impostas por Cheney para aceitar o cargo. Depois seguia para a reunião diária com Bush. E, contam vários funcionários da Casa Branca, independentemente do lugar do mundo ou do fuso horário em que se encontrasse, Cheney estava sempre nessas reuniões - muitas vezes por videoconferência. Sabia bem a importância de ter toda a informação em seu poder.

“Acho que se continua a pensar que Bush era um pouco tonto e que Cheney se aproveitou disso, que era o malandrão. Discordo: ele gostava de ser subestimado - às vezes, fazia por ser subestimado -, era uma pessoa de perfil baixo, cometia crimes terríveis contra a língua inglesa. Bush era quem decidia as coisas mais importantes, mas percebo que muita gente chegue a uma conclusão oposta, porque tem uma visão muito negativa de George W. Bush e o filme é uma maneira de tornar o Cheney mais maléfico do que foi”, sublinha Monjardino. “Dito isto, há a imagem de Dick Cheney como uma espécie de Darth Vader político.”

Amy Adams representa Lynn Cheney, a mulher do vice
Annapurna Pictures

Cheney nasceu no Nebraska (tem descendência britânica, galesa, irlandesa e de protestantes franceses). Curiosidade: partilha um antepassado com os ex-presidentes Harry S. Truman e Barack Obama. São primos muito, muito, muito distantes. Na juventude mudou-se com a família para o estado vizinho do Wyoming. Entrou na prestigiada universidade de Yale, mas a forma como saiu depende de quem conta a história: uns argumentam que teve dificuldades de adaptação e desistiu, outros que foi expulso pelo seu comportamento. Em jovem chegou a ser detido duas vezes por conduzir com excesso de álcool - e é precisamente neste ponto da sua vida que arranca “Vice”.

Acabaria por se endireitar, muito por força da sua mulher Lynn (conheceram-se ainda miúdos, aos 14 anos), e concluir os estudos na universidade de Wyoming, onde ficou apenas por concluir o doutoramento. Escapou-se a todos os recrutamentos militares. Teve duas filhas: Elizabeth (hoje congressista Liz Cheney) e Mary (que é homossexual, o que levou Cheney a apoiar várias vezes em público o casamento entre pessoas do mesmo sexo)

Por 20 anos fumou qualquer coisa como três maços de cigarros por dia. Teve o primeiro ataque cardíaco aos 37. Haveria de ter mais cinco: tinha um problema no ventrículo esquerdo. Fez um transplante de coração quando já estava quase condenado à morte - tinha 71 anos e os médicos avisaram-no do risco de dar um coração novo a alguém que, pela ordem natural da vida, já não teria muito mais tempo. “Essa operação foi quase uma experiência místico-religiosa para ele”, diz Monjardino. “Houve alguém que lhe perguntou se com o novo coração tinha passado a democrata. Ao que respondeu: ‘não cheguei a tanto’.”

Ao contrário de Bush, que praticamente se retirou da cena política, Cheney continua com alguma atividade, ainda que de forma indireta, sugerindo nomes para o congresso, senado e Partido Republicano. Também ao contrário de Bush - que já se autocriticou algumas vezes -, Cheney parece estar tranquilo com o que foi e com o que representa. As ideias de então são ainda as suas convicções. Diz, sem pudor, que não se arrepende da guerra no Iraque:

“Acredito no que fiz. Olho para trás e sei que foi a coisa absolutamente certa a fazer.”

8 Nomeações

Melhor filme
Melhor realizador
Melhor ator
Melhor ator secundário
Melhor atriz secundária
Melhor argumento original
Melhor montagem
Melhor caracterização

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