Há já um par de anos que os anunciantes norte-americanos agitam bandeiras para assinalar o até então nunca visto: a retenção de investimento publicitário em campanhas comerciais através dos meios audiovisuais. Os espectadores têm vindo a migrar em grande número para as plataformas de SVOD (Subscription Video On Demand) – Netflix, Amazon Prime Video, Hulu, etc. – abdicando do consumo dos canais abertos generalistas e temáticos por cabo, pelo que os habituais caudais de comunicação publicitária com as audiências estreitaram e o número de contactos com os consumidores reduziu consequentemente.
Grosso modo, e a partir desta perspetiva, o paradigma mudou: do tudo (televisão tradicional linear, sobretudo ancorada nas receitas publicitárias) para o nada (SVOD, suportada exclusivamente na angariação das subscrições pagas mensalmente). Perante o facto de o investimento publicitário estar a regredir, dir-se-ia que o meio termo, o AVOD (Ad Based Video On Demand), era uma inevitabilidade.
Vistas as coisas, o Freedive chegou, mas não caiu de paraquedas num campo de batalha pleno de concorrentes e adversários. Viu a luz do dia no conforto de um colo aconchegador. A Amazon optou por distribuir os filmes e séries selecionados para o efeito através do IMDb (Internet Movie Database), um website utilitário de consulta referencial no universo da ficção audiovisual (propriedade da própria Amazon). A saber: em novembro passado, o IMDb registou 78,2 milhões de unique visitors nos Estados Unidos com um dispêndio médio de 2,9 minutos por visita, de acordo com as medições efetuadas pela comScore. O gratuito Freedive é igualmente distribuído através do Fire TV – a miniconsola de rede desenvolvida pela marca para a transmissão de áudio e vídeo através de aparelhos de televisão de alta definição.
“THE ILLUSIONIST” E MUITOS OUTROS
Desta feita, a Amazon passa a fazer dois caminhos em paralelo na oferta dos seus conteúdos vídeo em streaming: Amazon Prime Video com subscrição paga e sem publicidade associada; Freedive de acesso gratuito e com anúncios incluídos. O Freedive conta para já com um menu de títulos onde sobressaem séries de sucesso como “Fringe”, “Heroes”, “The Bachelor” e “Without a Trace” ou hits de Hollywood como “The Illusionist”, “Memento”, “Foxcatcher” e “Monster 5”. O IMDb disponibiliza igualmente, também sem custo para os espectadores, uma série de vídeos originais desenvolvidos pelos próprios como o IMDb Show, Casting Calls e No Small Parts.
O catálogo vai ser regularmente alargado, assegura Col Needham, fundador e CEO do IMDb. “Os consumidores já confiam no IMDb para descobrirem filmes e séries e decidir o que vão ver. (…) Vamos continuar a incrementar o Freedive baseados no retorno dos nossos utilizadores e alargar a sua disponibilização em breve às aplicações móveis do IMDb”, acrescenta Needham.
A ver vamos que caminho fará o Freedive em prol da estratégia da Amazon e do IMDb, sendo certo de antemão que para o website é expectável vir a converter-se pelo menos num fornecedor com dupla personalidade, em que a função utilitária poderá perder relevância abrindo espaço para a transformação numa plataforma de consumo, em contrapartida, e em que os utilizadores casuais se converterão em espectadores mais habituais estabelecendo, por isso, contactos mais duradouros e prolongados, fazendo crescer as receitas comerciais provenientes da publicidade. De acordo com a consultora Accenture, a percentagem de espectadores norte-americanos tolerantes à publicidade associada aos conteúdos tem vindo a aumentar: 30% dizem-se atualmente dispostos a pagar por conteúdos livres de publicidade, quando há cerca de um ano a percentagem se fixava nos 36 pontos. Nos Estados Unidos existem cerca de duzentos serviços distintos de SVOD.