Cultura

Entrevistas com vampiros e soldados

O 38º Fantasporto prossegue no Cine-Teatro Rivoli no Porto até domingo com filmes de todos os géneros onde o horror e a fantasia ocupam um lugar especial

Jornalistas e vampiros à mesa. Quem vai ser comido?

Às vezes o cinema fala sobre si próprio. Pode não ser o melhor caminho se degenerar num exercício de observação do próprio umbigo mas também pode resultar em pleno. Basta pensar em Wim Wenders e “O Estado das Coisas”. Neste Fantasporto dois realizadores norte-americanos pegam exactamente na mesma ideia: contar uma história a partir do ponto de vista de uma equipa que está a realizar um documentário.

A partir daqui os caminhos divergem mas os resultados finais são excelentes. No primeiro caso Brian A.Metcalf roda o filme de vampiros que nunca tinha sido feito: “Living Among Us”. Os vampiros, não só sempre existiram, como vivem discretamente no meio de nós e a uma dada altura resolvem revelar-se como seres pacíficos que só precisam de acesso aos bancos de sangue para se alimentarem.

Uma equipa de reportagem vai filmar um documentário a casa de uma família de vampiros e a certa altura as coisas começam a precipitar-se, porque nem os ditos são tão mansos como querem dar a entender, nem a equipa de filmagem é tão tenrinha e indefesa como parece. Uma parábola divertida sobre o medo do outro, o politicamente correcto e o poder dos media, servida pelo apuro dos efeitos especiais nos quais Metcalf começara na sua carreira.

O outro filme, “Bikini Moon” de Milcho Mancheski não é menos fantástico mas os únicos fantasmas com que lida são os que povoam a mente de uma veterana de guerra que regressa profundamente perturbada do Iraque e, a quem, como muitos outros antigos soldados, a sociedade norte-americana não dá outra via senão a de se tornar sem abrigo. Resta saber se ela própria, constantemente a ser salva pelos seus amigos da equipa de filmagem, não quer viver senão num mundo de fantasia que evoca “O Rei Pescador” de Terry Gillian.

De resto a fronteira entre a sanidade mental e a loucura é ténue como se mostrou no filme russo “Involution” de Pavel Khvaleev ou na produção canadiana “The Child Must Remain” de Michael Melski, baseado, de resto, num caso real de maus tratos e assassínios de parturientes e crianças numa instituição privada.