É possivelmente o museu mais visitado do mundo, com uma média de 10 milhões de visitantes por ano. O Louvre, o museu do Louvre, inaugurado em 1793, é um repositório de tesouros e de História. Muitos séculos antes, em 1190, já era um palácio real, que serviu de fortaleza para defender Paris dos ataques dos Vikings. O palácio só daria lugar ao museu há 224 anos, o que o coloca no ranking dos mais antigos do mundo.
História nunca faltou à Europa. Nos 8000 anos de cultura e civilização do Oriente e do Ocidente que o Louvre abarca, há espaço para centenas de obras primas da História da Arte, como a Mona Lisa de Da Vinci, a Vénus de Milo ou a Vitória de Samotrácia, e para coleções imensas de artefatos do antigo Egito à civilização greco-romana. É lá também que se encontram muitas das obras maiores de artistas como Ticiano, Rembrandt, Michelangelo, Goya e Rubens.
O que sobra em História na Europa falta noutras partes do mundo e em nações mais jovens, fruto do seu processo histórico e de descolonização. É o caso de países como o Dubai ou os Emirados Árabes Unidos, que só se erigiu enquanto tal em 1971, quando conquistou a independência do Reino Unido. Economia pujante, com a sexta maior reserva de petróleo do mundo a gerar muitos petrodólares, os dirigentes do país cedo perceberam a importância de se dotarem de bens culturais relevantes no mapa mundial. A ilha de Saadiyat, em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, seguiu esse caminho.
Há dez anos ficou apalavrada uma parceria entre "o mais importante museu do mundo" e Abu Dhabi. Criar-se-ia ali uma espécie de satélite do Museu do Louvre, pela mão de um arquiteto francês de topo - um vencedor de Pritzker, Jean Nouvel -, durante 30 anos. Com o compromisso, a casa-mãe emprestaria obras de arte e organizaria exposições temporárias - nos primeiros 15 anos, 4 exposições por ano. Em contrapartida, França recebe mil milhões de euros. Negócio fechado.
Chuva de luz no palmeiral
A obra, que demorou uma década a construir e custou 500 milhões de euros, é impressionante, tanto em beleza como em dimensão. Ao todo, são 55 edifícios, distribuídos por 12 galerias, um auditório, um museu infantil, uma zona de investigação, lojas e restaurantes. Mas talvez o elemento mais impressionante do projeto arquitetónico seja a cúpula de 180 metros de diâmetro que acolhe quem chega. Esta é "perfurada" por várias placas de aço e alumínio com orifícios desenhados que deixam entrar o sol, criando um efeito de "chuva de luz". Passeando em frente ao mar, quase 8000 estrelas de metal criam a sensação de estar debaixo de um palmeiral, típico dos oásis, em que o vento oscilante altera a luz. "Quis criar uma espécie de microclima protegido, ao mesmo tempo que reproduzir a sensação de felicidade e tranquilidade", justificou Nouvel. O arquiteto explica ainda que quis construir uma obra perene que conseguisse atravessar os séculos. "É como uma catedral. Não criei o museu para estar obsoleto daqui a umas décadas. Construo para as pessoas, para a civilização, para a Humanidade."
Na base do projeto esteve sempre a ideia de criar uma ponte entre civilizações, daí a utilização de "símbolos árabes". Por isso também ali se expõem, a partir deste sábado, obras de todo o mundo. O diretor do Louvre de Abu Dabi, Manuel Rabaté, defendeu: "Isto é mais do que museu. É uma metáfora universal de diálogo. Queremos celebrar a Humanidade".
Do acervo artístico inicial que irá abrilhantar o novo Louvre do Médio Oriente faz parte uma Princesa da Bactria do terceiro milénio a.C, uma pulseira de ouro com cabeça de leão com cerca de 3000 anos, o quadro de Magritte "O Leitor subjugado", uma colagem de Picasso, datada de 1928, chamada "Retrato de uma Dama", e nove telas do artista contemporâneo Cy Twombly. Ao todo, serão mais de 600 as obras expostas, sendo que metade é emprestada. Aqui, incluem-se "La Belle Ferronnière", de Leonardo Da Vinci, "Estação de St-Lazes", de Calude Monet, "O Tocador de Pífaro", de Edouard Manet, "Natureza Morta com Magnolia", de Henri Matisse, e "Globo", de Vincenzo Coronelli.
Estas são as jóias da coroa de um museu que pretende partilhar a cultura milenar da Humanidade com o público do Médio Oriente. Talvez desse intercâmbio civilizacional possam sair frutos de maior respeito mútuo.