A Cindy é uma das mulheres mais poderosas do mundo dos media na atualidade. Ainda sente que tem de provar o que vale diariamente?
Não acho que isso esteja relacionado com o meu género. Todos os dias acordo com o objetivo de fazer o melhor trabalho possível, estou muito focada em oferecer a melhor programação para todos os nossos membros, em todo o mundo. E cada vez mais em oferecer uma boa seleção de de programas centrada em personagens femininas complexas. Estamos a viver uma altura muito empolgante para trabalhar nesta indústria. E certamente na Netflix.
Como é feita a escolha de novas séries?
Começa sempre com uma ideia, de produtores que querem dar vida às suas histórias. É assim que qualquer grande projeto começa: vêm até nós e nós trabalhamos para descobrir a melhor forma de expressar essa história. O nosso trabalho é apoiar estes produtores e storytellers e pô-los a fazer o melhor trabalho das suas vidas.
Estamos a assistir ao crescimento do número de séries centradas em personagens femininas, marcada pela estreia recente de “Glow” dos mesmos criadores de “Orange is the New Black”. Qual a importância para a Netflix de ter um portefólio feminino forte?
Na verdade, nem sequer me ocorre que pudesse ser de outra forma. As mulheres representam metade da população mundial, pelo que para nós é uma decisão completamente natural e óbvia ter estas personagens. A meu ver, os telespectadores têm acolhido bem estas personagens e têm sentido uma certa ligação com as suas histórias.
As séries de ficção podem ter um papel importante na construção de uma sociedade mais justa e com mulheres mais poderosas?
Sem dúvida alguma. A arte pode mudar o mundo. Quando eu era criança, também havia alguns bons exemplos. Para mim, a série dos “Anjos de Charlie” era inspiradora, eu queria ser como a Sabrina Duncan. Acho que é possível encontrar bons modelos a seguir em todos os tipos de narrativas, pelo que ficamos muito contentes por termos a possibilidade de trazer um grande número de personagens femininas poderosas para o ecrã.
De que tipo de programas estão à procura agora? Quais serão as próximas apostas?
Essa pergunta é boa, mas a resposta que tenho para lhe dar é muito abrangente. Estamos sempre à procura das melhores histórias e dos melhores contadores de histórias em todo os cantos do mundo. Uma vez que não dependemos de publicidade nem de qualquer fator demográfico específico, queremos levar o melhor para todos. E isso torna a tarefa da programação ainda maior e mais entusiasmante.
É mais difícil encontrar a aposta certa para um público tão vasto?
Não estamos à procura de um programa que apele a cada um dos 100 milhões de membros. Mais uma vez, o que estamos à procura das melhores histórias dos melhores contadores de histórias, e quando temos uma série que agrada a uma audiência específica, tentamos fazer dele o melhor programa para essa determinada população. Depois pode acabar por interessar a um grupo mais vasto de utilizadores. Foi o que aconteceu, por exemplo, com “Stranger Things”. Foi criado originalmente para jovens adultos, mas rapidamente percebemos que podia ir muito além disso. Depois tenho de dizer que não considero que “Orange is the New Black” ou “Glow” agradem apenas às mulheres, vão muito além disso.
Estava a falar-me de “Stranger Things”… Foi uma das maiores surpresas para a Netflix?
É verdade que se tornou muito mais popular do que pensámos no início, mas gostámos da história desde a primeira vez que ouvimos falar dela. Assim que vimos este grupo de crianças a trabalhar em conjunto, era difícil não nos apaixonarmos. Foi o mesmo que aconteceu com a audiência.
E qual é a mensagem quando a Netflix decide cancelar uma série?
Nunca é uma decisão fácil de se tomar, pela nossa relação próxima com os produtores e pela relação que os produtos criam com a audiência. Mas a verdade é que estamos a lançar tantas novas séries que se as contarmos e se virmos as que foram canceladas, temos uma taxa de cancelamento bastante baixa (comparada com a de outros canais). Para nós, quando pensamos se devemos ou não renovar uma série, é preciso medir uma variedade de fatores. Mas, honestamente, não passa de uma decisão de negócio. Será que tivemos uma audiência suficiente para justificar o investimento? Quando se cancela uma série é porque foi uma experiência que não correu tão bem como o esperado, mas o facto de pelo menos ter existido é uma das maiores alegrias para mim. Mesmo que não dure tanto tempo como gostaríamos. Por exemplo, o facto de termos um “The Get Down” ou um “Sense8” já é muito gratificante. Eu gosto de olhar para o copo meio cheio.
É possível que a pressão dos fãs de determinada série vos leve a mudar de opinião, a dar uma segunda vida à produção? Ou não é assim tão simples?
Não é, de maneira nenhuma, tão simples assim. Com toda a certeza. Nós próprios somos também fãs, pelo que a decisão de cancelar uma série nunca é fácil. É tudo muito ponderado.
E quanto a “Girlboss”, a vossa série centrada na personagem de Sophia Amoruso, a criadora da marca Nasty Gal, foi também uma questão de audiências?
Sim, foi tão simples quanto isso. Ficamos muito orgulhosos da série, mas não captou a atenção de uma audiência grande o suficiente em todo o mundo para que continuássemos com ela. Agora estamos à procura de outras histórias que possam agradar não só aos fãs de “Girlboss” como a outros públicos.
Como vê o futuro dos vossos conteúdos originais?
Parece-me ser bastante brilhante. Estamos agora no nosso quarto ano de séries original e sabemos que temos um longo caminho a percorrer. Estamos bastante entusiasmados com as oportunidades da televisão através da internet e da televisão por subscrição para uma audiência global. Queremos pegar nas histórias de determinado autor local e pô-las à disposição do mundo inteiro. É fenomenal.
E para Portugal, estão a planear alguma produção nacional ou isso ainda não está em cima da mesa?
Há gente a trabalhar nisso, mas não sei exatamente qual é a timeline. O nosso objetivo é procurar os melhores produtores em qualquer país do mundo.