O rio Mira é ponto de partida e chegada de uma viagem pelas águas de Odemira. Suba a bordo de um passeio no barco tradicional Maresia do Mira (Tel. 964200944), conduzido por Conceição. Nos anos 70, já o pai, Manuel, fazia a travessia do rio, levando todos aqueles que queriam chegar à praia das Furnas, então menos concorrida do que as praias urbanas de Vila Nova de Milfontes. A curta viagem de cerca de 15 minutos, representa um mundo de exploração sem fim, já que o curso do rio Mira compreende os três polos que constituem a Estação Náutica de Odemira: o Polo Náutico de Vila Nova de Milfontes, de Odemira e da Albufeira de Santa Clara.
Junto ao Forte de São Clemente desce-se até ao rio pela escadaria branca, enfeitada com desenhos científicos, para apanhar o barco Maresia do Mira e embarcar numa viagem que permite conhecer a fundo este ecossistema. A bióloga, Larissa Ohl, da Hike in alentejo (Tel. 961298880), autora das ilustrações, acompanha o passeio e desvenda os segredos da fauna e flora do rio que nasce na Serra do Caldeirão, a 470 metros de altitude, e acaba em Vila Nova de Milfontes. Ao longo do percurso, conta a história da vila, e explica a geologia, que soma 350 milhões de anos, tempo do supercontinente Pangeia. Neste território existem xistos da altura dessas formações. Segundo Larissa, entre as espécies do estuário estão douradas, sargos, robalos, corvina - que entra propositadamente para a desova -, e também enguia, ainda que bastante ameaçada. Mais para cima, seguindo rumo à ponte de Milfontes, outras espécies de peixes aproveitam as pradarias de ervas marinhas, esconderijos e alimentos. Nas margens, junto ao sapal, encontra-se muita salicórnia, rica em zinco e magnésio, um ótimo substituto do sal. Pode trincar durante o passeio e sentir a salinidade.
Mergulhar em praias quase selvagens e andar de “prancha voadora”
A praia da Franquia fica a cinco minutos a pé do Forte de São Clemente, um caminho que se faz sempre a olhar o mar e a outra margem do rio com vegetação densa intacta. Esta é uma das praias urbanas de Milfontes, onde é possível deslizar de SUP ou de canoa com a SW SUP (Tel.963551232) ou com a BeSurf (Tel. 966700008), modalidades tranquilas e divertidas, que permitem ter outra perspetiva dos areais e falésias, belezas naturais da “princesa do Alentejo”. Os espaços para praticar estes desportos estão delimitados por boias, procurando não interferir com a tranquilidade dos banhistas. A segunda praia urbana com ondulação suave, a Praia do Farol, favorece de igual modo a prática de canoagem. Quando a maré baixa, formam-se pequenas lagoas que fazem desta praia uma das prediletas para famílias com crianças. Mas se atravessar para a outra margem do rio, já nas praias das Furnas, Mar e Rio, tem possibilidade de experimentar o e-foil, uma espécie de “prancha voadora”, aplicada neste caso às modalidades de wind, wake e surf, com a Time 2 Wing (Tel.969762966).
Bodyboard e surf são desportos aquáticos que podem ser praticados nas Praias do Malhão, Sul e Norte, e praia do Almograve, que para além destas atividades, quando a maré vasa, tem nas pequenas piscinas naturais um convite às brincadeiras de miúdos e graúdos. Na praia do Carvalhal, protegida por duas arribas elevadas, preenchidas por vegetação, é o rio que cria “piscinas” que entrecortam o areal, também usadas pelos mais pequenos para chapinhar. À entrada do areal, junto ao bar Cabana Beach Nature, funciona a Carvalhal Surf School (Tel. 961112940) que dá apoio a quem queira dar aos primeiros passos no surf ou aperfeiçoar a “arte de apanhar ondas”, privilegiada na praia do Carvalhal, que acaba por ser um ponto de encontro de surfistas e famílias.
Observação de aves
A partir do outono e durante o inverno, é tempo de observação de aves neste rio fantástico, uma atividade que Larissa também realiza com a Bture (Tel. 925348205), com a qual criou moldes de bivalves como ameijoa e lambujinha para mostrar aos participantes desta jornada e explicar como vivem e se reproduzem. Quando a maré está baixa, junto à salicórnia, o barco para para observar o Caranguejo Violinista, uma espécie que só existe aqui e na ria Formosa. O macho tem uma pinça maior do que a outra. Usam-se binóculos para ver as aves e à chegada ao moinho de maré é tempo de parar, relaxar, beber um vinho e provar queijo e pão alentejanos. Quem quiser pode dar um mergulho. Durante cerca de 90 minutos, fica a saber tudo acerca da vida marinha do Mira.
Cegonhas brancas na falésia
É tempo de desvendar a paisagem arrebatadora a partir do Cabo Sardão. Além da panorâmica grandiosa pelas alturas e geologia escarpada, admira-se neste local algo único: as cegonhas nidificam sobre as águas, o que não acontece em mais nenhum outro lugar do planeta. Nas falésias, tire proveito do miradouro no deck de madeira com bancos onde pode sentar-se a contemplar o horizonte azul a perder de vista, sentir a maresia, ouvir o mar e ficar para assistir ao pôr-do-sol na companhia do canto dos pássaros. Para atingir o areal da praia dos Alteirinhos, situada a pouco metros de distância do Cabo Sardão, é preciso descer uma extensa escadaria, rodeada de vegetação. É uma praia em que as águas descobrem pequenas formações rochosas no vaivém das ondas, onde usualmente se concentram os veraneantes com crianças. Além de muito tranquila, a praia dos Alteirinhos permite a prática de naturismo.
Pelo Cabo Sardão passam o Caminho Histórico, o Trilho dos Pescadores e dezenas de percursos circulares, tudo sugestões de passeio da Rota Vicentina. Para uma caminhada fácil e panorâmica, com cerca de oito quilómetros, siga até ao Portinho de Pesca Artesanal Lapa das Pombas, no Almograve e assista à azáfama dos pescadores.
Apenas a meia hora de carro encontra a vila da Zambujeira do Mar e a praia, recortada entre falésias altas. Dizem os locais que tem o pôr-do-sol mais bonito que existe e, na realidade não podemos contra-argumentar. Na praia da Zambujeira encontra ótimas condições para a prática de surf e bodyboard. Marque uma aula com o N.B.Z.M – Núcleo de Bodyboard da Zambujeira do Mar (Tel. 916563947). E se bodyboard combina com pôr-do-sol, já se sabe que na Zambujeira, é uma experiência inolvidável.
Banhos quentes e tranquilidade interior
O rio Mira vive-se de outra forma em plena vila de Odemira. Na frente ribeirinha renovada, uma zona rodeada de árvores que dão sombra e refrescam, pontuada por curiosas esculturas de ferro, oferece mesas de pedra para sentar e comer ao ar livre, ou simplesmente descansar. Percorrendo mais um pouco a frente-rio, surge um miradouro enfeitado com hortênsias. As canoas e caiaques da Ecotrails (Tel. 967155383)ali estacionados assinalam que pode alugar ou pedir que o guiem à descoberta do rio. Devido às marés, no verão, a Ecotrails leva-o por um passeio com mergulhos e piquenique. O leito do Mira ainda é relativamente estreito junto à vila, permite deslizar ladeado por árvores, navegar pela sombra de velhos sobreiros, oliveiras e medronheiros. Escolha a distância a percorrer e o tempo que deseja ficar pela água. Acrescente uma experiência ao pôr-do-sol. No regresso, sente-se no banco de madeira que baloiça junto à margem do rio. Está coberto para ficar protegido do sol e esquecer o tempo a passar. Tem ainda chapéus de colmo numa zona relvada. Leve o farnel, estenda uma toalha, aproveite para ler um livro e relaxar.
Passeio contemplativo, pesca e escrita antiga
O interior de Odemira revela um outro mundo de águas. Por entre vales e colinas, atravessamos um Alentejo em que predominam oliveiras e sobreiros, mas rapidamente se encontra novamente a água, na Barragem de Santa Clara-a-Velha. Com uma temperatura de quase 30 graus, convidam à multiplicação de mergulhos na piscina flutuante da praia fluvial com bandeira azul. Quando fizer esta viagem, vá prevenido com cesto de piquenique porque esta paisagem, entre relevos verdejantes e azul das águas do rio Mira que alimentam a barragem, é particularmente dada a lanches prolongados. Há chapéus de colmo e mesas para usufruir da vista com toda a calma. Dedique-se à pesca desportiva com a Bass Catch in Santa Clara (Tel. 963553829). Carpa dourada ou achigã, depois de capturados, são pesados, medidos e depois libertados. Na realidade, o passeio de barco é sobretudo dedicado ao descanso e ao silêncio, à contemplação. Com um passeio de canoa com a 110SW (Tel. 965156374) chega perto das margens, pode ver as pequenas ilhas e edifícios submersos. Há passeios de natureza para fazer nas redondezas, seja a pé ou de bicicleta, mas também uma freguesia para conhecer. Em Santa Clara-a-Velha, uma via romana ligava Beja ao Algarve e, um pouco mais a norte, fica a Estação Arqueológica da Necrópole do Pardieiro, onde existem lápides epigrafadas com a Escrita do Sudoeste, um dos mais antigos sistemas de signos conhecidos na Península Ibérica.
A oferta de experiências e atividades nas águas do concelho está concentrada no projeto Estações Náuticas, que é composta por três polos no curso do rio Mira: o de Vila Nova de Milfontes, o de Odemira e o da albufeira da Barragem de Santa Clara. Pode saber mais na página do Turismo de Odemira.
Para a produção desta reportagem a equipa Boa Cama Boa Mesa contou com o apoio da Câmara Municipal de Odemira.