Póvoa Semanário

Banda Musical anseia pelas novas instalações

A Banda Musical da Póvoa de Varzim, fundada em 1947, da junção das duas bandas, "A Povoense" e "A Poveira" que a cidade tinha altura, passou estes anos a ensaiar em casas que não a sua. Este ano, finalmente, terá a sua própria sede, que surge da recuperação do antigo Matadouro

 

A Câmara Municipal fez a obra e, num protocolo com a Associação da Banda Musical, disponibiliza o espaço como sede desta associação, por um período de 25 anos.

A ensaiar há quase 20 anos n'A Familiar, frente ao Posto de Turismo, a Associação já ensaiou nas instalações do actual posto da Polícia, n'A Filantrópica e num espaço junto à Câmara Municipal. "Andamos sempre com a mobília às costas", recorda António Conceição, presidente da Banda, sublinhando que as novas instalações são fruto do trabalho de persuasão junto dos responsáveis. "Num dos folhetos da campanha do actual presidente da Câmara Municipal, Macedo Vieira, falava sobre a nova sede e agarrei-me a isso". De início, a sede iria ser na Escola do Século, passando depois para o antigo Matadouro.

Ao fim de mais de dois anos de obras, o edifício está agora quase concluído, faltando os últimos retoques e a inauguração. António Conceição não quis dar certezas, mas adiantou que a data falada é a do Dia da Cidade, em Junho próximo.

"Está pronto e muito bonito", sublinha o presidente. A estrutura conta com um auditório com uma galeria, três salas de aulas, sala de convívio, bar, serviços administrativos e uma sala de direcção, numa obra da autoria do arquitecto Rui Bianchi, orçada em 500 mil euros, mas com o preço final a rondar os 400mil. Para António Conceição, só falta uma coisa: o mastro para colocar a bandeira da Associação.

 

Manteve-se a estrutura num espaço remodelado

O arquitecto Rui Bianchi, responsável pelo projecto da nova sede, divulgou que o mesmo surgiu da adaptação das necessidades da Banda às circunstâncias do edifício. "Tivemos em atenção que se trata de um edifício emblemático e preservamos os seus valores".

Quanto à estrutura, o arquitecto disse que "as paredes são as mesmas. A cobertura só não é a mesma porque a antiga já não tinha condições. Foi necessário substituir a madeira e os telhados, mas a forma é a mesma. Aproveitamos quase tudo, deixamos ficar aquilo que era a construção original, de modo a respeitar a política de reabilitação, que impõe que a obra possa ser reversível". As alterações de maior prenderam-se na parte posterior, com a construção de salas para aulas, administração, espaço de convívio e um bar, além das casas de banho e vestiários. "Aí possibilitou-nos fazer uma intervenção mais contemporânea. Ao mesmo tempo, é uma construção simples, relativamente discreta. Está com condições para uma nova actividade, a Banda Musical, mas possibilita também, no âmbito cultural, albergar outras áreas, eventos, pequenos espectáculos, exposições, ou até de carácter mais festivo".

No percurso efectuado pelo interior da futura sede da Banda, Rui Bianchi explicou que a intervenção foi toda feita em madeira de pinho e com a particularidade de os tectos de madeira interiores serem pintados em vermelho sangue de boi, em memória do passado do edifício. As maiores dificuldades, segundo o arquitecto, prenderam-se com a legislação, "que não nos permite reformular parte do projecto, pelo facto de estarmos a trabalhar numa obra antiga".

 

"Enquanto eu cá estiver a Banda sobrevive. Depois não sei" 

António da Conceição, ligado à Banda Musical da Póvoa desde 1947, revela que já queria ter deixado a Associação, mas tal não foi ainda possível porque "não se apresentou mais ninguém para assumir a direcção". Apesar da situação, confessou que foi de tudo, menos músico. Com 90 anos, desdobra-se entre a direcção, ensaios, concertos e viagens, o que torna "isto cansativo, mas só anda cá quem gosta". O mandato termina em 2013 e nessa altura quer sair, mas antes tenciona inaugurar as novas instalações.

O presidente tem consciência de que a situação do país é tudo menos propícia para as bandas musicais. Contudo não desiste e defende que enquanto estiver na direcção, a Banda manter-se-á. "Vamos ver se isto segue. Estamos a apostar nas Escolas de Música, e este ano já entraram 10 miúdos para a Banda. Mas não vamos meter muita mais gente. Não podemos. Aqui todos os músicos ganham e com a diminuição das actuações o panorama não é favorável", confessou.

120 é o número de sócios. "Muitos para aquilo que a Póvoa tem", refere António Conceição e acrescenta: "a cidade tem associações a mais. Qualquer grupo cria uma associação e depois vai tudo pedir à Câmara. Claro que depois não chega".

O mesmo se verifica nas festas. "O povo não tem dinheiro, as confrarias vivem do povo. Se não entra dinheiro, não podem contratar as bandas para actuar", lembra o presidente afirmando que a redução no número de propostas para actuar tem sido significativa.

Tendo já passado por períodos de crise e recessão ao longo do século XX, a Banda Musical sempre sobreviveu. "Chegamos a ter 30 músicos nas décadas de 50 e 60. Íamos fazer as festas com 30, onde nos pagavam com broa e vinho e não havia transportes", lembra António Conceição, prevendo tempos difíceis. "Enquanto eu cá estiver  a Banda sobrevive. Depois não sei. As pessoas não têm paciência, nem estão para se chatear com isto porque os problemas já são muitos e isto pode acabar. Mas eu não vou ficar aqui de bibelô", defende, sublinhando que alguém terá de assumir esta responsabilidade.

"Adoro isto, não nego, se não já tinha ido embora. Ando por gosto, faço a minha vida. Deito-me tarde e é desgastante, mas gosto".

 

Mais de meia centena de músicos representam a Póvoa 

João Vaz é o maestro da Banda Musical há 20 anos. Desde então, já muitos músicos passaram pela Banda. Neste momento, formam um grupo de 62 músicos que actuam sobretudo em festas e romarias no concelho.

Os ensaios são, para os aprendizes, ao sábado à tarde, e para os mais velhos, ao sábado à noite, com a idade dos membros a variar entre os 6 e os 66 anos.

Quanto a concertos, os meses de Verão são os mais sobrecarregados, mas em Março e Abril fazem actuações, em procissões fúnebres. Fora da Póvoa, o desempenho prendem-se sobretudo com os encontros de Bandas e as festas para onde são solicitados.

Por sua vez, o reportório da Banda é muito abrangente. Tocam musicais como "Fantasma da Ópera" e os "Miseráveis". "Estamos sempre a mudar, para não cansar. Há obras que se tocam há muitos anos e continuarão sempre a ser ouvidas, mas outras vamos mudando", defende o maestro e professor de música.

João Vaz sublinha ainda a prestação da banda: "é bastante boa e de há dez anos a esta parte, a banda teve o seu auge e tentamos manter essa forma, que não é fácil. O público adere. As festas da Póvoa atraem muita gente e quando ouvem a banda passar vai tudo atrás".

Eduardo Moreira ingressou na Banda há 34 anos e não mais a deixou. Começou a tocar Trompa, mas há sete anos mudou para a Tuba. Vendedor de profissão, Eduardo Moreira confessa que a música é uma maneira de ocupar os tempos livres. "Gosto não só de tocar, mas também de ir ouvir outras bandas". Quanto às novas instalações, o músico mostra-se ansioso pela inauguração e pela mudança. Eduardo Moreira já tem dois descendentes na Banda e tocam Trompete.

André Silva tem 9 anos e é o elemento mais novo da Banda. Toca Trompete há quatro anos e ingressou na Banda há um. O jovem revelou o gosto pela música e destaca que aprende muito com os mais velhos. "Vim para aqui porque quase toda a minha família materna anda aqui e decidi vir. Experimentei e gostei".

Já Óscar Andrade, 13 anos, começou na música por incentivo do irmão. A bateria é o seu instrumento de eleição, mas por vezes também toca Tímpanos, Bombo, Sinos e outros instrumentos de precursão. Quando entrou, há cinco anos, revelou que tinha um fascínio pelas coisas grandes e redondas, a bateria.