Jornal do Algarve

Investigadores descobrem mais espécies no banco submarino de Gorringe

  Estas descobertas, bem como o facto de a zona já estar a apresentar sinais de contaminação, levou os investigadores a lançar o alerta para a necessidade da sua proteção

Domingos Viegas (Jornal do Algarve)

 

Uma equipa de investigadores do projeto Oceana, que conta com a colaboração da Universidade do Algarve, encontrou espécies nunca vistas nas montanhas submarinas de Gorringe, durante a expedição realizada este ano e que terminou no início de outubro.

Esta área montanhosa submarina, conhecida por Banco de Gorringe, localiza-se 250 quilómetros a sudoeste do Cabo de São Vicente e está considerada uma das montanhas submarinas mais importantes da Europa e com maior diversidade ambiental.

Os cumes desta cadeia montanhosa encontram-se a cerca de 30 metros da superfície e a base a mais de 5.000 metros de profundidade. Este facto contribui para que possam ser encontradas nesta zona espécies cujo habitat são as águas iluminadas e menos profundas, mas também espécies de grandes profundidades e que vivem na mais completa escuridão.

Outra das curiosidades tem a ver com a sua localização, perto da costa algarvia, um facto que permite a existência de espécies do Atlântico e também de outras, oriundas do Mediterrâneo.

"Na expedição deste ano podemos observar algumas espécies novas cuja existência no Gorringe se desconhecia, tais como os corais negros arbóreos, hidrocorais, tubarões sapata, esponjas ninho e diversas gorgónias", explica Ricardo Aguilar, diretor de investigação da Oceana Europa e chefe da expedição.

"Temos dezenas de espécies que ainda não identificámos. Esperamos que nos proporcionem novos dados sobre estes ecossistemas e facilitem a proteção e conservação deste enclave único.", frisa Ricardo Aguilar,

acrescentando que as montanhas são visitadas, por exemplo, por grandes espécies pelágicas, entre as quais baleias, golfinhos ou peixes espada. À superfície, e de acordo com o investigador, abundam aves como os pequenos painhos ou as pardelas.

"Durante este ano realizámos imersões para poder observar as espécies de zonas mais profundas que sobem pelas ladeiras das montanhas à procura de presas. Assim, encontrámos diferentes tubarões de profundidade e alguns outros peixes mais difíceis de observar", revela o mesmo investigador.

"Os cumes encontram-se cobertos de bosques de algas, entre as que se destacam os grandes kelps. Sobre os picos mais altos concentram-se importantes cardumes de charuteiros catarino, carapaus e barracudas e nas zonas mais profundas abundam os fundos detríticos cobertos de restos de corais, briozoários e moluscos, nos quais vivem esponjas ninho e pink frogmouths", explica o investigador.

As imagens e amostras recolhidas vão agora ser analisadas pela Oceana e pela Universidade do Algarve.

 

Sinais de contaminação e necessidade de proteção

Mas nem tudo foram boas notícias. Durante a expedição, os investigadores documentaram a presença de lixo e de aprestos abandonados. Estes sinais de contaminação representam um alerta para a necessidade de proteção daquela zona.

"Apesar de muitas zonas serem totalmente virgens, alguns dos fundos rochosos já estão a ser fortemente afetados pela atividade humana, com infinidade de aprestos pesqueiros abandonados, como nassa, fios, redes e cabos", revelou a Oceana em comunicado enviado, entretanto, às redações.

Por se tratar de uma zona com "impressionantes bosques de algas" e "uma grande variedade de habitats com centenas de espécies", a Oceana lançou o alerta para que se potencie a proteção daquele enclave.

A primeira expedição da Oceana ao Gorrige aconteceu em 2005 e, na altura, foram identificadas 36 espécies até então desconhecidas naquela zona do Atlântico. Em 2011, a segunda expedição identificou mais cerca de uma centena de espécies.

Antes, em1998, a zona já tinha sido explorada pela Associação Atlântico Selvagem, em colaboração com a Universidade do Algarve. Na altura, os investigadores realizaram uma expedição ao pico Gettysburg. Além da captação de imagens, foram recolhidas várias amostras de algas, de moluscos gastrópodos e de rochas. No ano seguinte, e em 2003, decorreram novas expedições científicas que resultaram na recolha de diversas amostras biológicas e geológicas.

(mais informação em www.jornaldoalgarve.pt)