Jornal do Algarve

Campeão do Mundo de canaricultura é algarvio

José Frangolho, de Vila Real de Santo António, foi o primeiro português a conquistar quatro dos seis prémios em disputa num campeonato do mundo de canaricultura (campeão e sub-campeão por equipas, bem como segundo e terceiro lugar individualmente).

Domingos Viegas / Jornal do Algarve

 

Depois de ter conquistado vários títulos a nível nacional e regional, e aproveitando o facto de o Campeonato do Mundo de Canaricultura ter lugar no nosso país (decorreu na Exponor, em Leça da Palmeira, no final de Janeiro), José Frangolho, de Vila Real de Santo António, com 35 anos e criador de canários desde os nove anos, foi tentar a sua sorte, levando a concurso 14 das suas aves.

A participação deste vila-realense surgiu inicialmente apenas como uma experiência e uma curiosidade, pois competir com criadores profissionais e habituados a estas andanças não se vislumbrava tarefa fácil. Ainda mais, tendo em conta que estavam a concurso cerca de 20 mil aves, pertencentes aos mais conceituados criadores oriundos de 36 países. Mas o que José Frangolho não sabia era que tinha criado, mesmo com as escassas condições que possui, alguns dos melhores canários do mundo.

E o resultado acabou por surpreender tudo e todos. Com os seus 14 canários brancos, este vila-realense arrecadou os títulos de campeão e sub-campeão do mundo por equipas, bem como o segundo e o terceiro lugar individualmente. Ou seja, garantiu quatro dos seis prémios em disputa, sagrando-se o primeiro português da história destas competições a conseguir um feito desta dimensão e deixando para segundo plano belgas, italianos e holandeses, os mais habituados a conquistar prémios em campeonatos do mundo.

"Já tinha participado em dois concursos internacionais, em Espanha, onde ganhei todos os prémios, para surpresa minha, dadas as dimensões daquele país e a quantidade de participantes. E este ano fui experimentar o campeonato do mundo. Conhecia a qualidade dos meus canários, mas nunca pensei que conseguiria um resultado destes", conta José Frangolho.

Beleza, comportamento e canto são alguns dos parâmetros avaliados

Num campeonato do mundo de canaricultura, as aves são avaliadas por um júri constituído por especialistas originários de diversos países. Ao longo de várias eliminatórias, é avaliada a beleza de cada pássaro, a sua limpeza, o comportamento na gaiola, o canto, entre outros parâmetros. Finalmente são encontrados os finalistas, individualmente e por equipas (conjuntos de aves), que lutarão por os lugares no pódio em cada uma destas duas categorias.

No caso de José Frangolho, o seu feito tem ainda mais mérito, uma vez que não é um criador profissional. Aliás, este criador vila-realense leva esta actividade "como um hobby" e como uma forma de "libertar o stress do dia a dia", frisa à nossa reportagem.

"A minha realidade é muito diferente. Eles [os criadores profissionais] gastam quantias muito avultadas na compra dos melhores pássaros. Fazem grandes investimentos, compram pássaros que foram campeões do mundo... Eu compro um ou dois pássaros por ano e vou trabalhando com o que tenho. Para ter um campeão do mundo, tenho eu que o fazer, tenho que o criar", explica José Frangolho.

"Recuso-me a vender os meus canários"

Desde que José Frangolho se sagrou campeão do mundo de canaricultura, o seu telefone não pára de tocar. Criadores de todos os recantos do planeta contactam-no para lhe dar os parabéns, mas principalmente para lhe propor a compra dos seus canários.

Este criador vila-realense garante que já lhe ofereceram "bastante dinheiro" por os pássaros que levou ao campeonato do mundo. Porém, recusa-se a vende-los. "Digo-lhes sempre o mesmo: fique com o seu dinheiro e eu fico com os meus pássaros e com o amor que tenho por eles", conta José Frangolho, lembrando que nas grandes exposições a nível mundial, um canário campeão do mundo pode chegar a ser vendido por "muitos milhares de euros".

"Mas no meu caso, fui eu que os vi nascer, fui eu que os criei, eu é que os preparo, eu é que trato deles... Tive o mérito de ter sido campeão do mundo desta forma, por isso recuso-me a vender um pássaro destes. Seria uma dor. Era como vender um filho", justifica José Frangolho, explicando que "quem entra nestes negócios" são criadores que possuem "autênticas fábricas de canários", que fazem vida desta actividade e que, por isso, "acabam por perder o amor aos pássaros".

Os segredos do campeão

Questionado acerca de qual o segredo para fazer um canário campeão, José Frangolho diz que, ressalvando algumas diferenças, "é muito semelhante à domesticação de um cão".

"Os canários são domesticados e são tratados. Os segredos estão aí. Tal como na domesticação de um cão, o pássaro é ensinado através da comida. Se o canário estiver comigo e eu lhe der determinado tipo de comida, consigo alterar o seu comportamento. Quando chega perto do júri, canta quando tem que cantar e têm o comportamento que eu quero que ele tenha, porque está ensinado a faze-lo", explica.

Porém, José Frangolho frisa que a "curiosidade" e as "experiências", levadas a cabo com os canários ao longo dos anos, é que fazem um criador campeão. "Sou um curioso do mundo dos canários e os curiosos acabam por se fazer campeões", garante aquele criador, explicando que desde muito novo que estuda tudo o que envolve estas aves, incluído a sua genética, de forma a conseguir os melhores cruzamentos e, consequentemente, obter "pássaros de maior qualidade".

"Fui pesquisando e aprendendo com criadores mais experientes. Actualmente, os meus amigos já costumam chamar-me o veterinário dos canários. Se têm alguma dúvida, telefonam-me e perguntam-me que tratamento é que devem fazer para resolver qualquer problema que tenham com os seus pássaros", conta José Frangolho, que, depois de ter sido campeão do Algarve durante sete anos consecutivos e campeão nacional, viu recompensado o seu trabalho e dedicação aos canários com o título de campeão do Mundo.