Vida na Terra

Abrir espaço para o comércio justo

Alexandre Coutinho

O comércio justo é um movimento social, criado com o objectivo de transformar os actuais modelos de relações económicas, propondo circuitos alternativos de comercialização de bens e serviços. Existe na Europa, há mais de 30 anos, mas a expansão das redes de lojas tem sido lenta.

E, no entanto, o comércio justo é um modelo de desenvolvimento baseado na economia solidária, que valoriza as pessoas, o trabalho colectivo, a equidade e a cooperação, face à competição e à concentração de riqueza nas empresas transnacionais; defende a transformação dos produtos localmente, valorizando o papel dos produtores locais, que não são vistos como meros fornecedores de matérias-primas; e a soberania alimentar, no Sul e no Norte, que consiste no direito dos povos decidirem de que forma e que alimentos querem produzir.

O comércio justo favorece os mercados internos e locais, através do fortalecimento dos circuitos curtos, sem intermediários; uma relação directa e transparente entre quem produz e quem consome; os processos tradicionais; e a agricultura biológica. Por outro lado, procura trabalhar com produtores que funcionam de forma colectiva, comprometidos com a realidade social, política e ambiental do seu território, como a Via Campesina - um movimento internacional que integra experiências organizativas dos trabalhadores rurais.

Por outro lado, o movimento do comércio justo não deve apenas ser compreendido em estritos termos Norte-Sul, mas sim numa perspectiva global de mudança na produção, transformação, distribuição, comércio e consumo. O conceito passa por modificar as relações comerciais injustas, que têm por base a política das instituições financeiras internacionais de impor a abertura dos mercados do Sul aos produtos e práticas agrícolas, nomeadamente, o cultivo de transgénicos. Neste sentido, é importante apoiar as organizações de agricultores na defesa dos seus cultivos e formas tradicionais de produção.

O comércio internacional deve ser entendido como um complemento do comércio local e não como um motor de desenvolvimento, centrado na exportação. Procura-se, assim, diminuir a dependência dos produtores do Sul do mercado internacional. O objectivo é, pelo menos, duplo: por um lado, criar actores críticos em toda a cadeia económica e, por outro, desenvolver práticas alternativas que se articulem em redes locais e globais.

O CIDAC (Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral) deverá abrir, em breve, uma nova loja de comércio justo em Lisboa, iniciando uma nova fase neste percurso, agora também como actor comercial. O empenho desta organização não-governamental para o desenvolvimento na divulgação do comércio justo data de 1999, quando começaram a surgir as primeiras lojas de comércio justo em Portugal. O CIDAC empenhou-se activamente na criação da Coordenação Portuguesa do Comércio Justo e, em conjunto com a Associação Cores do Globo, organizou as Primeiras Jornadas do Comércio Justo, em 2001. Em 2008, o CIDAC aderiu à rede Espaço por um Comércio Justo (ECJ), que conta com dezenas de organizações em França, Itália, Espanha e Portugal (as lojas Ecos do Sul, na Damaia e Mó de Vida, no Pragal e o próprio CIDAC).