&conomia à 2ª

E se ficarmos sem Internet?

E se, de repente, não conseguíssemos aceder à Internet? Já imaginou? Sem acesso a e-mails, sem mensagens de WhatsApp, sem acesso on-line à conta bancária, sem acesso aos seus dados pessoais, às suas redes sociais, aos sites dos jornais. Imagine ainda que vem um vírus informático que apaga tudo o que é ficheiro num computador, portátil ou smartphone que esteja ligado em rede? Pois é. É um cenário de guerra. Aliás, quando hoje se fala de um cenário de guerra no futuro, esta seria uma das formas nefastas e arrasadoras de que um ataque cibernético se revestiria.

Vem esta conversa a propósito do livro escrito por Bill Clinton e James Patterson. Recomendo vivamente. Convida à reflexão sobre a forma como estamos ligados. Em rede mundial, qual aldeia global. Esta é uma Globalização que tem corrido a uma velocidade vertiginosa. Não há volta a dar. Estamos hoje, em qualquer profissão, dependentes da rede, desde logo aqueles que trabalham com ficheiros alojados na chamada “nuvem”. Do transporte que precisa de estar ligado, aos aviões, à água potável, ao simples elevador ou escada rolante, passando por um sem número de aparelhos e funcionalidades que vivem na Internet e isto aprofundar-se-á com a chamada Internet das coisas, na qual a nova geração de telecomunicações móveis, o chamado 5G, desempenhará um papel crucial.

Ora, num tempo em que se fala tanto de crime informático ou cibercrime e de piratas informáticos é bom que olhemos para a segurança informática como uma clara necessidade nacional, individual e empresarial. Está lá tudo. As nossas marcas digitais, todas as nossas poupanças, os nossos documentos (da simples fotografia às partes mais sensíveis), a nossa forma de comunicar e de nos movermos no mundo digital. Os hospitais sem ligação. Tanto, mas tanto. Sem internet, sem os ficheiros em rede não temos mecanismos vitais para o normal funcionamento da sociedade dos dias de hoje. Penso que foi, também como alerta para os cidadãos do mundo digital, que Bill Clinton escreveu este livro.

A nossa economia alicerça-se, em grande medida, no funcionamento em rede. As cadeias logísticas (transversais a múltiplas indústrias e sectores), as Bolsas de valores, o comércio internacional, os fluxos financeiros transnacionais até o mero acto de comprar um bilhete de avião. Tudo está em profunda interdependência e necessita de ser salvaguardado. Por isso a necessidade de um contínuo diálogo entre os diferentes Estados e de criar um módico de Governança a nível mundial. Falo a sério.

Ouvi com atenção Lucília Gago, a nova Procuradora Geral da República, no seu primeiro discurso de abertura do novo ano judicial, colocando a corrupção e o cibercrime no topo das prioridades do Ministério Público. E bem. Se a corrupção obriga a medidas claras e permanentes para expurgar os elementos nocivos que corroem a nossa sociedade e comunidade nacional, olhar para o cibercrime é hoje uma obrigação premente perante o que se passa, presentemente, no mundo. Não podemos fingir que não tem perigos. São já muitos os casos de burlas online, com mais ou menos peso, para ignorarmos esta realidade. Neste âmbito, nunca é demais lembrar, o ataque diário a que são submetidas diversas infra-estruturas críticas, desde as de telecomunicações até às redes energéticas que, como é evidente, atraem a vontade de intrusão de piratas informáticos por conta própria e, com algum grau de probabilidade, de outros com patrocínio soberano, com objectivos estratégicos de longo prazo, para lá do mero pedido de dinheiro para reaver os ficheiros roubados.

A rede, a Internet, não pode ser um mundo sem regras e sem escrutínio, uma espécie de faroeste sem Xerife. Pelo bem de todos e segurança de todas as nações. Há vírus online que podem ser tão ou mais perigosos que muitas armas de fogo ou alguns mísseis balísticos. Fica o desafio a todas as autoridades competentes e agentes da comunidade cibernética. Atenção.