O economista Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia, escreveu recentemente, num do seus invariavelmente interessantes artigos de opinião publicado pelo New York Times, que se tem observado nas últimas décadas um aumento dos lucros do capital sem o correspondente aumento dos salários dos trabalhadores, e que as diferenças de salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados deixaram de se alargar, ao contrário do que acontecia nos anos 80, numa espécie de ressurgimento da dialética Marxista. Mas é a explicação que avança para esses fenómenos que nos leva a citá-lo no Robotizando. Segundo Krugman, há duas causas possíveis para estes desequilíbrios: por um lado o aumento dos monopólios de capitalistas sem escrúpulos; por outro o facto de muito do trabalho tecnológico avançado moderno ser realizado por máquinas cujos computadores são fabricados por... robôs - cujo custo por unidade produzida é menor até do que o equivalente aos baixos salários dos trabalhadores asiáticos. Os Estados Unidos encontraram assim na tecnologia um substituto barato para os humanos, que lhes permite competir com a China e outras economias orientais em grande expansão. Curiosamente, notícias recentes provenientes da própria China falam também em empresas que adquiriram um milhão de robôs literalmente para substituir trabalhadores humanos!
Devem os académicos e empresas que produzem robôs preocupar-se com estes aspectos, bem como outros de natureza também ética mas distinta, como o uso crescente de robôs na guerra, incluindo veículos aéreos que disparam sobre inimigos, por enquanto apenas seguindo a ordem de operadores humanos remotos, mas para os quais já se discute a possibilidade de decidir autonomamente alvejar pessoas reconhecidas pela máquina como inimigos?
Na minha opinião, sim. Embora seja verdade que a Ciência e a Tecnologia sempre tenham desenvolvido ao longo dos séculos produtos que fazem avançar a Humanidade, ao mesmo tempo que são usados de forma perversa por quem tira deles partido para fins bélicos e/ou não éticos, e que os investigadores não podem nem devem inibir a sua capacidade de desvendar novas soluções, produtos e ideias que fazem avançar a Humanidade e criam progresso, há casos em que os riscos são tão óbvios que deveriam merecer uma atenção especial. Por exemplo, não deveriam os investigadores em Robótica recusar-se a colaborar no desenvolvimento de robôs assassinos, mesmo que para ser usados em guerras supostamente defensáveis? E o que dizer dos avanços na robótica de manufatura que permitem substituir até trabalhadores qualificados e não mais apenas os que realizavam trabalhos inumanos, como nos anos 70 e 80? A Robótica tem hoje à sua frente uma diversidade e riqueza de áreas de aplicação que permite aos seus investigadores focarem-se nas soluções de progresso real, como os robôs de serviços que ajudam em casa, em espaços públicos, e na exploração do fundo do mar ou de planetas distantes. Talvez valha a pena então que todos paremos para pensar e tomemos as nossas opções sobre as linhas de inovação a desenvolver ponderando não só a sua mais valia para cada um de nós e as nossas empresas, mas também, e principalmente, o impacte que elas têm sobre a sociedade.
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