Quando, nos finais de 1971, surgiu a primeira edição do Festival de Jazz de Cascais, os seus dois organizadores, Luís Vilas-Boas e Duarte Mendonça, estavam longe de imaginar que estariam a contribuir para a contestação ao regime da ditadura vigente.
Aliás, já em 1970, com o Festival de Vilar de Mouros, se haviam iniciado também, agregadas à música, várias acções políticas que incidiam particularmente no repúdio à Guerra Colonial. E o festival de Cascais não foi excepção, em 1972 e 73, tendo a polícia, abruptamente, invadido o abarrotado Pavilhão do Dramático para apreender (e prender os seus mentores) um enorme cartaz, onde de novo a questão colonial era o tema.
Mas o festival seguiu o seu curso independentemente dos factos políticos que lhe eram associados, e a música pura e dura ia chegando ano a ano com o desfile do melhor que havia no mundo do jazz. Por ali passaram nomes famosos, como Sarah Vaughan, Charlie Parker, Roland Kirk, B.B. King, e o mítico Dizzy Gillespie (na fotografia). E orquestras de primeira água, como a de Duke Ellington ou Woody Herman.
O festival foi definhando ano após ano, numa prova de que os mais de 10 mil fãs de jazz, na sua maioria jovens, que ali acorriam nos primeiros anos não iam só para ouvir música. Essa, pode dizer-se, era a via directa para a contestação de uma juventude sedenta de fazer ouvir a sua voz.
Texto publicado na edição do Expresso de 7 de Novembro de 2009