Politicoesfera

O desejo de Passos Coelho ao Pai Natal: ter Paulo Portas no "sapatinho"!

João Lemos Esteves

1.Curiosas a manchete política que dominou a última semana (e que não tive oportunidade de comentar em cima do acontecimento, pois os meus alunos da Faculdade de Direito de Lisboa realizaram exames e eu entendo que é uma das obrigações do docente corrigir celeremente as provas para que os alunos não desesperem!) : Paulo Portas, na moção de censura que apresentará ao Congresso do CDS de Fevereiro, demarca-se do PSD, optando por salientar que o natural é os dois partidos apresentarem-se separadamente às eleições legislativas de 2015. Eis um exemplo perfeito de uma notícia- não notícia: todos sabemos que uma coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS é uma impossibilidade política objectiva. A História já o demonstrou à exaustão - e o quotidiano político-partidário mostra que vivemos a conjuntura histórica em que PSD e CDS/PP estão mais distantes politicamente do que nunca. Sim, meu caro leitor, não me enganei: PSD e CDS são partidos totalmente incompatíveis actualmente, apesar de formalmente estarem juntos no Governo. Repare-se: o PSD hoje é um partido centralizado, focado exclusivamente na figura de Passos Coelho - os militantes com visibilidade mediática do PSD ora têm a lucidez para detectar os muitos erros de Passos Coelho, demarcando-se desta fase muito triste do seu partido, ora são putativos candidatos à liderança do PSD que esperam a melhor oportunidade para avançar. O CDS/PP, há quase duas décadas, que é um partido monolítico, unipessoal de responsabilidade (muito!) limitada: o PP é (ainda é) Paulo Portas. Efectivamente, no CDS/PP, tudo começa em Paulo Portas; tudo acaba em Paulo Portas. E pelo meio, tudo tem a inspiração e as subtilezas criativas de...de...Paulo Portas, pois claro! Ora, Paulo Portas e Passos Coelho são politicamente incompatíveis! Paulo Portas despreza olimpicamente o Primeiro-Ministro; Passos Coelho tem medo do líder do CDS...

2. Pois bem, a atenção dos media centrou-se sobretudo na aparente contradição entre o discurso de Passos Coelho (que, em entrevista a Judite de Sousa, havia dito que faria sentido o PSD e o CDS concorrerem em conjunto nas próximas legislativas) e o de Paulo Portas. Trata-se apenas de uma contradição ilusória: é que, em rigor, Passos Coelho disse exactamente o que tinha de dizer - e Paulo Portas limitou-se a exteriorizar o pensamento que todos sabíamos ser o dele desde o primeiro minuto desta (estranha e turbulenta) coligação. Passo a explicar: Passos Coelho tinha necessariamente de manter em aberto a sua disponibilidade para negociar uma lista conjunta com o CDS para dar a ideia de uma coligação governamental coesa e inquebrantável; e, por outro lado, pela razão singela de que PSD e CDS aparecerão unidos nas eleições europeias, pelo que é de evitar qualquer atitude ou declaração que possa tornar a relação entre os dois partidos insustentável. Além disso, como Passos Coelho não tem especial habilidade para a gestão política, está genuinamente convencido que, tendo Paulo Portas índices de popularidade substancialmente superiores, será mais benéfico para si, em termos eleitorais, apresentar-se ao eleitorado unido ao CDS, capitalizando politicamente as diatribes populares de Paulo Portas!

Por último, Passos Coelho tentará ao máximo forçar a aliança pré-eleitoral (para as legislativas) com o CDS por um motivo muito simples e que representa, ao mesmo tempo, uma admissão da sua fragilidade política: Passos Coelho não sabe ter outro discurso senão o discurso cinzento da austeridade, dos sacrifícios, da mudança de vida. Este é o seu estilo. Esta é a sua forma de estar na política: ora, nas próximas legislativas, os portugueses irão escolher o político que os poderá conduzir a um futuro mais próspero, com mais esperança e ambição. E Passos Coelho é estruturalmente incapaz de transmitir confiança, muito menos esperança num futuro melhor! É que já não é só o ficar ligado a um passado de sacrifícios, à pior fase de sempre da democracia portuguesa - é mais do que isso! É não saber ter um discurso alternativo e sentir-se desconfortável em puxar pelo lado positivo dos portugueses! Ao invés, Paulo Portas mesmo perante factos negativos consegue sempre transmitir um lado positivo, ainda que com grande habilidade e com grande deturpação dos factos! Ou seja, Passos Coelho tem noção que politicamente Paulo Portas vale muito mais do que ele - daí preferir candidatar-se al lado de Portas e não contra Portas!

3. Conclusão: já que estamos em dia de véspera de Natal, Passos Coelho irá pedir ao Pai Natal que os militantes do PSD comprem a ideia de coligação pré-eleitoral com o CDS e Paulo Portas queira (ou pelo menos, não afaste já) tal ideia. Agora, julgo que nem os militantes do PSD, nem Paulo Portas acreditam no Pai Natal...e muito menos acreditam nas capacidades de Passos Coelho.

UM FELIZ E SANTO NATAL PARA TODOS!

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