O modo do tempo

Vila Nova de Milfontes

António de Castro Caeiro

Para Clarisse de Castro Caeiro 

A estrada rolava a sul. Havia copas a taparem o sol. Famílias encontravam-se com jornais diários e adolescentes atravessavam o Rio. Apanhava-se a corrente de feição. Podia ir ter-se à foz com ondas de assustar. Mas o Rio levava à margem.

Os amigos encontravam-se todos os anos. A voz mudara. O sexo tinha orientações. Havia a corte que se fazia. Havia o mundo inteiro. É o mundo inteiro o tempo inteiro? É o mundo e o tempo a vida?

De ano para ano não havia reconhecimentos. Ficavam quem falava do que lia e do que conhecia. No mundo, há só o que se lê dele e o que fizeram de nós.

Desço ao rio. A foz é sempre a mesma. A foz já sem ninguém que na altura era brilhantemente quem tinha 15 anos. Desapareceram. Há castas. Há gentes. Havia gente tão gira que não se sabe no que se tornou.

Todos os anos aparece gente. Na altura, eram os mais velhos. A iniciação de tudo O que foi? Morreram muitos. Outros, sobreviveram. No fim da noite, no fim da vida, no fim do dia, no fim da hora...

Era o princípio. O princípio de quem não tem sexo, de quem não tem pátria, de quem só há família e praia. Na praia, encontram-se garfos com a data dos anos cinquenta. O vento traz lendas de quem foi e quem veio e quem foi.

Os amigos não precisam de estar a sul, à distância da geografia e de 365 anos de envelhecimento. A francesa linda de 16 anos que escreve em francês e nunca mais volta. O rosto da vida na cara concreta de quem tem olhos azuis e cabelos negros. Ah! F...-se. Onde estás tu?

As dunas não morrem, transformam-se. Mas o rio: o rio leva para o mar. O rio aponta ao Atlântico. Trazem uma traineira sem marinheiros nem pescadores. Sobe o rio. Como se subir o rio, fosse voltar à origem. À origem? De onde partem os barcos? Da montanha.

A criança aponta os mortos. A mãe diz:- "É o destino". A criança pensa que o destino é um homem.

Não. É a vida.

Os náufragos regressam a terra. Os náufragos regressam à superfície.

É o destino.