Chegaram a horas. Ambos tinham a certeza de que iriam ser os primeiros. Os outros chegariam. Chegaram sempre. Não seria excepção. O metro da Alameda era o ponto de encontro. Havia várias possibilidades. Podia ser na plataforma de um lado e de outro. Mas essa possibilidade foi logo despedida. À superfície havia várias saídas. Até parece uma estação internacional. Os dois encontraram-se como se encontravam sempre na Estação do Cais do Sodré para subir para o Bairro. Os outros haveriam de chegar.
Procuraram uma posição estratégica para não deixar em ângulo cego uma das saídas do Metro. Os outros começaram a Chegar. Primeiro o J.. Os três ficaram à coca. Sabia-se que o jornalista tinha uma determinada indumentária e que alguém o tinha visto em fotografias. Não se percebeu bem como foi sair na mais improvável boca do metro da Alameda. Depois, sim. É que o homem estava já a pensar na esplanada onde se iriam sentar para a entrevista.
Os outros mandavam dizer pelo TM que estavam a chegar.
Há 23 anos não havia nada disso. Era por telefone. Os mal entendidos eram desfeitos quando muito no dia seguinte. Outros ficavam para sempre por desfazer. Lá nos sentamos e começaram a aparecer o Miguel e o Cascão. O TJ já não via o Jó desde 1990. 23 Anos. A excepção era o Pedro Cruel e o Newton.
Há pessoas que se encontram numa dimensão essencial. Não se pode dizer que se reataram conversas. Talvez, se entendermos a conversa como a trama complexa que tem o guião de "birds of a feather who flock together".
A invocação do tempo passado em conjunto nem sempre é feliz. Há quem invoque canais sem vasos comunicantes. Cada um pode lembrar-se de flashes que não são partilháveis nem consegue captar os dos outros.
Outras vezes, não.
Mais de duas décadas é muito tempo para as pessoas não se verem.
Percursos paralelos, vidas que não se cruzam já no quotidiano. É difícil. A vida é complicada. Sobretudo para quem se decidiu expor ao que os dias trazem.
Os músicos não são diferentes dos poetas. Só não conseguem estar em silêncio. Mas são a mesma coisa. Entre famílias e afastamentos geográficos, o tempo.
Mas há tempo que não tem atras de si só ruínas.
Há quem é o que foi aos quinze anos.
Sim, a vida ajoelha-nos a todos numa dada altura e custa levantar umas vezes mais do que outras.
Mas outrora como agora:-
Já é tarde para a RENDIÇÃO.