Mergulhávamos entre o último dia de Setembro e o primeiro de Junho. Havia: a avó, a mãe e o pai. O mano e eu pegávamos nas toalhas. Ficávamos de atalaia. O carro estava carregado com tudo para as férias. Era o carro? Ou a impossibilidade de ir de férias?
Alcântara era atravessada e a ponte. A ponte Salazar ou a ponte 25 de Abril? Para nós era a ponte sobre o Tejo. Parece um Dinossauro bordeaux. As pernas apoiam-se no rio. O rio é a sepultura dos trabalhadores da construção da ponte.
O Cristo Rei de braços abertos acolhe-nos a sul. A cidade e as suas ruas e o que lá vivemos acolhe-nos a norte.
E o rio o que diz? Enche e vaza. O rio.
Alguém chama "ribeirinho" a quem viveu sempre a ver o rio a descer para o mar. O Atlântico leva e não traz.
Onde estão todos os afogados? Onde? E a vida continua sem eles. E as férias trouxeram os primeiros mergulhos no Oceano, aqueles que sofocavam.
O carro cheio para férias está na rua.
Partíamos às oito da manhã. Havia farnel. E chegávamos às seis da tarde.
O Beta, o Manel da Manjedoura, os amigos que se foram.
Onde estão todos?
Não se foram.
Era o carro carregado para as férias, para os amores de verão. Para o mergulho. O mergulho a sul. Antes de haver Norte, Sul, Este e Oeste.
"Um dia vais sentir a falta dos pais". "O irmão chora o Beta." "O pai chora o Manel da Manjedoura". Que é feito de nós?
O Rio Mira tem as braçadas da vida.
A vida foi-se. Não. A vida vai-se.
Mergulhávamos entre o último dia de Setembro e o primeiro de Junho.
Onde? Quando?
Mergulhos no Oceano depois de meses na cidade. A cidade!
Mergulho.
O Oceano.
Do último dia de Setembro. Havia tantos dias que eram os últimos de Setembro.
Até Agosto.
Em Agosto: e tudo será diferente!
As ondas morrem na praia.
A praia já não é a da infância.