Do outro mundo

Ministro vai dizer aos pensionistas quanto tempo de vida lhes resta

Luis M. Faria

Leiam, que a ideia há-de chegar aqui, e talvez nem demore muito. O ministro britânico das pensões tenciona passar a informar os pensionistas sobre quanto tempo de vida lhes resta. Utilizando indicadores como a idade, os hábitos de vida (se fumam, se são muito sedentários, o peso, etc), bem como a história genética da família, apurar-se-á uma estimativa da esperança de vida de um cidadão, a qual lhes será comunicada.

O argumento é que assim eles ficarão em condições de planear melhor o futuro. Mas a ideia surge num contexto de cortes na despesa pública. Esses cortes, tal como cá, assumem por vezes feição dramática (embora a outra escala; tomara nós) e já têm dado origem a suicídios. Sem se intimidar, o ministro das finanças prossegue aquilo que considera, segundo alguns comentadores, a sua 'missão sagrada' de encolher o Estado.

Ligada à ideia de prever o ano da morte está uma outra decisão, igualmente anunciada pelo ministro das pensões e a implementar a partir de 2015.  Os pensionistas com poupanças de reforma terão a alternativa de receber de uma só vez o montante acumulado dos seus descontos, em vez das tradicionais anuidades.

O ministro assegura que não se importa nada se os pensionistas gastarem o dinheiro todo num Lamborghini. Foram as suas palavras. Se um idoso optar por sobreviver apenas com uma pensão básica do Estado durante os seus últimos anos, é com ele.

O imposto será mais alto

O governante diz-se "relaxado" com as várias possibilidades. E isto acontece num país onde, apesar de o rendimento médio ser bastante superior ao português, os níveis de desigualdade se aproximam dos nossos. O mesmo se diga dos argumentos usados nos debates públicos sobre austeridade e cortes. (Não por acaso. Muitos 'opinion makers' ganham o suficiente para se identificarem um bocadinho com os ricos, procurando imitar-lhes o estilo de vida e os raciocínios. Por exemplo, quando afirmam - contra a evidência empírica - que reduzir a desigualdade prejudica o crescimento).

Quanto ao reembolso instantâneo dos descontos acima referido, claro que os montantes em causa, de modo geral, não dariam para pagar um Lamborghini. Já nem falemos dos custos de manutenção do carro. Porque isso, como o ministro poderia alegar, aliás com razão, será problema dos pensionistas.

O que realmente interessa ao governo, diz-se, é o quanto receberá a mais de imposto sempre que um pensionista decidir esvaziar o pote e receber o seu dinheiro de uma vez.  Parece que ainda é bastante.