Quando Stephanie Wilson, uma australiana de 28 anos a viver em Nova Iorque, foi às compras num luxuoso armazém, não esperava descobrir o que descobriu. Dentro do seu saco, havia uma carta escrita à mão. O texto, em inglês, era um pedido de socorro. Alguém apresentava-se como Tohnain Emmanuel Njong e dizia que estava preso na China. Junta à carta vinha uma foto tipo passe de um homem.
Inicialmente, como qualquer pessoa, Stephanie deve ter desconfiado. É tão frequente esse tipo de partidas... E hoje em dia, com a chamada fraude nigeriana e outros esquemas, sabe-se lá o que nos poderão fazer. Mas a australiana teve curiosidade, e contactou uma organização que tenta dar apoio a presos chineses.
Lá as pessoas acharam que a carta era verosímil, sobretudo pelas descrições do trabalho forçado na cadeia. Njong dizia que trabalhava desde madrugada até à noite, em condições sub-humanas. Parte do seu trabalho era justamente fabricar as famosas malas da Saks Fifth Avenue, como aquela onde escondera a sua carta - uma de cinco que terá enviado a partir do cativeiro.
Empresas proibidas de lucrar com trabalho escravo
O resto da história também parecia fazer sentido. Njong contava que era oriundo dos Camarões e tinha ido para a China como professor de inglês. Um dia alguém o acusou de fraude, e prenderam-no.
Stephanie passou a carta às autoridades americanas, as quais terão investigado o assunto, mas não comentam. (A relevância legal do assunto nos EUA é que as empresas americanas estão proibidas de vender bens produzidos com trabalho escravo). Entretanto, uma revista conseguiu chegar à fala com Njong - se realmente ele tem esse nome - usando os endereços de internet que vinham na carta.
O homem contactado confirmou a história e relatou a sequência. Condenado a três anos, cumprira apenas dez meses, devido a bom comportamento. Após a libertação, regressara aos Camarões, mas não encontrou emprego lá, pelo que foi para o Dubai, onde vive actualmente.
Perceber que uma das suas cartas tinha chegado a ser lida por alguém foi "a maior surpresa da minha vida", garante.