100 reféns

Uma vénia ao povo português

Tiago Mesquita (www.expresso.pt)

Numa época socialmente nebulosa, de muitas provações, privações e não menos incertezas, há, porém, uma certeza que nos transmite alguma esperança: podem contar connosco para ajudar quem mais precisa. Sempre.

Habituámo-nos a destacar os traços menos positivos da nossa sociedade. Apoucamos com frequência comportamentos enraizados que tardam a desaparecer. E, neste processo, esquecemo-nos muitas vezes de destacar e dar valor ao que temos de profundamente bom. Algo que é um traço distintivo da nossa identidade enquanto povo: a generosidade. Na verdade, é muito mais imediata e mediática uma critica mordaz do que um elogio sincero. Por isso, aqui fica a minha vénia à solidariedade demonstrada pelos portugueses uma vez mais. A resposta que deram quando foram novamente chamados a contribuir no combate a um flagelo transversal e cada vez mais enraizado na nossa sociedade foi notável, deve ser registada e saudada.

Os bancos alimentares contra a Fome recolheram, no fim de semana passado, 2.445 toneladas de géneros alimentares um pouco por todo o país. Uma acção de solidariedade que levou à mobilização de quase 40.000 voluntários. Incrível e louvável. Os géneros alimentares recolhidos vão ser agora distribuídos por 2.221 instituições de solidariedade social, que posteriormente os vão entregar a entregar a 389.200 pessoas sob a forma de cabazes de alimentos ou refeições confeccionadas.

A humanidade, a sensibilidade perante uma causa maior e o sentimento de partilha demostrado numa época em que a grande maioria tem cada vez menos para partilhar, revela muito sobre as pessoas e sobre o país. Os portugueses, mesmo passando por dificuldades, em alguns casos extremas, muito para além do que conseguimos imaginar, não ficaram, no entanto, alheios a esta campanha. Estiveram presentes.

Vivemos num mundo injusto. Vivemos num país onde o Estado se vai esquecendo, cada dia que passa mais, dos cidadãos que o fundaram e que são a razão principal da sua existência. Cada vez menos conseguimos controlar aquilo que nos tiram e a forma despudorada como a fazem. Estão a roubar-nos o futuro e a liberdade. A lógica seria a de que os revoltados, oprimidos e empobrecidos saíssem menos da sua própria casca. O expectável seria olharmos com menos frequência para os outros e para o seu sofrimento. No entanto, isto não acontece.  Acontece, sim, precisamente o contrário. E é por isso que Portugal, façam o que fizerem, vai ser sempre um grande país.

 

 

 

 

 

 

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