O desemprego é o maior flagelo da sociedade actual. Em março deste ano, 952,2 mil pessoas - 17,7% da população portuguesa -, sobretudo jovens, estavam desempregadas. Nos três primeiros meses de 2013, mais vinte e nove mil pessoas ficaram sem emprego. Estar desempregado é uma condição que há muito deixou de ser transitória para se tornar permanente na vida de muitas pessoas. E esta permanência, um polvo que agarra a vida das pessoas e as arrasta para todo o tipo de dramas sociais, está muito para além da compreensão da maioria das gravatinhas alinhadas nas bancadas parlamentares. Falam de números e raramente pensam que os números são afinal de carne e osso.
E o que tem este governo feito para combater este flagelo? Eu ajudo: nada.
Passos Coelho considera o desemprego jovem "uma verdadeira tragédia". Muito bem, estamos de acordo. Agora o que fez, faz ou pretende vir a fazer V. Exa., o maior responsável pelo sucesso ou insucesso nesta matéria, para que este flagelo regrida? Quais as medidas? Vai "bater punho", como o outro, por todos nós? Nunca vi os bombeiros combaterem um incêndio de mangueira em riste e água desligada, a dizerem uns aos outros "olha que grande tragédia que aqui está".
A falta de sensibilidade e tacto do senhor primeiro-ministro relativamente a este assunto, traduzida na inacção perante o naufrágio social, só pode ser explicada quando olhamos atentamente para os exemplos da sua brilhante carreira. Porque quem não sabe do que fala poucas vezes acerta. Quem tem a obrigação e dever de combater o desemprego deveria conhecer o drama por dentro, e não do lado de fora dos vidros do Centro de Emprego, no quentinho do Mercedes limusine devidamente escoltado pela polícia.
Não estou com isto a dizer-lhe, sr. primeiro-ministro, que se demita e vá a correr ao Centro de Emprego de Massamá. Não, seria pedir demasiado. Mas pelo menos informe-se, agora que gere os destinos do país. E faça com que os milhões de pessoas que não tiveram a vida que o senhor teve - e tem e provavelmente terá depois de abandonar o cargo que ocupa - não tenham de ali acorrer, sem outra opção possível.
Depois de olhar atentamente para o curriculum vitae do chefe do governo e ficar com as órbitas a saltar entre tantos cargos de Administrador (Executivo e Não Executivo), Presidente, Director Financeiro, Administrador Delegado e Administrador Financeiro de muitas e da mesma empresa, entendo que o senhor provavelmente nunca na sua vida teve de enviar um curriculum vitae para parte alguma. E digo isto dando-lhe, desde já, os meus sinceros parabéns. Certamente trilhou os rumos político-partidários, formativos e profissionais que lhe permitiram que assim fosse.
Para acabar, agora sem ironias, dou-lhe um conselho: lembre-se de que actualmente o seu emprego é, no fundo, o de "administrar" os empregos de (quase) todos os portugueses. E deixe de uma vez por todas, no que toca às medidas de combate ao desemprego, de ser um Administrador Não Executivo.