Roupa para lavar

Cinco extravagâncias na busca da felicidade

Eu tenho cinco bules. Este é o meu preferido

A questão levantada pelos Monty Pithon  - qual é o sentido da vida? - pode muito bem ser transcendental mas já tinha sido respondida por escrito há mais de dois séculos, por Thomas Jefferson.

Na declaração de Independência dos Estados Unidos, Jefferson considerou "a procura da felicidade" como um dos direitos inalienáveis dos cidadãos.

Agora que estamos todos de acordo em saber qual é o sentido da vida, o que realmente importa é apurar onde é que se deve adquirir a felicidade.

Há uma enorme variedade de respostas possíveis a esta magna e candente questão.

Há pessoas que procuram a felicidade na cama. Uns a dormir sozinhos (que é como se dorme melhor), outros a dormir com outrem, e ainda outros acumulando as duas vertentes do verbo dormir (solução que me parece asissada).

A maior percentagem de diabéticos encontra-se entre as pessoas que procuram a felicidade ao balcão das pastelarias, habilitando-se ainda a danos irreversíveis na sua silhueta.

Por último, há pessoas que procuram adquirir a felicidade no fundo de uma garrafa. Neste caso quem paga é o fígado, a mais provável baixa colateral desta busca da felicidade, um estado celestial que nunca deve ser confundido com visões de elefantes cor-de-rosa.

Eu sou um adepto do My Way, a teoria Sinatra na busca da felicidade.

Na minha busca pessoal e incessante da felicidade, apetrechei-me com pequena série de extravagâncias que ainda não me puseram a ver estrelas nem a levitar como os monges tibetanos mas que já me têm proporcionado momentos muito bons.

Como não guardo segredos dos meus amigos da lavandaria, disponho-me a socializar cinco das pequenas extravagâncias com que me equipei no caminho para a felicidade.

Descrevo agora sumariamente estas cinco extravagâncias, assegurando que cada uma delas será detalhada em "posts" individuais quando Deus e o pessoal que está a tratar da remodelação do site do Expresso quiserem, na sua imensa bondade.

1. Canetas Muji e caderninhos Clairefontaine

Irão concordar que é realmente uma extravagância. Na recolha da matéria prima (frases, ideias, projectos e apontamentos) para o meu ofício, uso exclusivamente esferográficas coloridas (a roxa é a minha favorita) compradas na cadeia de lojas japonesa de Muji e cadernos Clairefontaine quadriculados, de 9x14cm, 96 páginas. Por norma, abasteço-me em Paris, o que é muito (mas mesmo muito) chique e cosmopolita.

2. Estacionar o carro de traseira

Recuso-me terminantemente a estacionar o carro de frente. Pensando no futuro próximo, meto-o sempre de traseira. A manobra pode dar um poucochinho mais de trabalho (no meu caso, tenho tanto treino que acho que me custaria mais estacioná-lo de frente) mas depois, à saída, é só embraiar, engatar a primeira e sair e frente. Uma limpeza.

3. Beber todos os dias vários litros de chá

Talvez para compensar o facto de não ter tomado chá em pequenino, bebo diariamente litros de chá. Chá quente, morno frio ou gelado. Chá negro, verde, vermelho ou infusões. Chá. Muito chá. Para que nunca me falte chá tenho sempre uma chaleira e um bule na minha mesa de trabalho.

4. Enrolar o papel dos pacotes de açúcar

Desconfio seriamente que esta minha idiosincrasia (se calhar mania seria o vocábulo mais adequado?) vai ser muito aproveitada por alguns membros da lavandaria para se deleitarem com exercícios de cariz freudiano. É verdade. Apesar de tomar o café amargo, gosto de enrolar os papéis dos sacos de açúcar.

5. Ir-me secando dentro do roupão

Detesto secar-me à força. Acho uma seca sair relaxado do banho e ter de me enxugar rapidamente, esfregando energicamente a toalha em todas as partes, mesmo as mais recônditas, do meu corpo. Prefiro acordar mais cedo e deixar a água desaparecer do meu corpo pelo efeito conjugado da evaporação e do contacto com o atoalhado do roupão.

Jorge Fiel