O País dos Prodígios

Jardim, os loucos e as regateiras

Um dia, com calma, gostava que alguém me explicasse o motivo de tanta deferência para Alberto João Jardim.

O contrato que os políticos do Continente - do Presidente da República, ao primeiro-ministro, passando pelos líderes partidários - têm com Jardim é muito simples: ele diz o que lhe vem à cabeça, de forma inusitada e mal-educada (como chamar 'bando de loucos' a deputados) e os de cá ficam calados e assobiam para o lado.

Por menos do que disse Jardim já rolariam processos contra jornais, contra comentadores, contra quem quer que fosse; mas Jardim tem aquela imunidade de que gozam os seres irresponsáveis - no óbvio sentido de que, por um motivo ou por outro, não podem ser responsabilizados.

Recuso-me a crer que seja puro eleitoralismo; não quero acreditar que seja apenas pela necessidade dos votos de Jardim que o PSD não se indigna com as suas palavras. Repare-se que o mesmo PSD bem pensante que verbera (e bem!) as palavras de Gomes da Silva e de Ribau Esteves sobre a jornalista Fernanda Câncio (apontada como companheira sentimental de Sócrates), nada diz sobre a boçalidade alarve das palavras de Jardim.

Não quero acreditar que Jaime Gama, quando o elogia como um combativo democrata, o faça apenas como piscadela de olhos ao centro político e ao PSD.

Não posso, sequer, pensar que o Presidente da República manterá o silêncio sobre o caso com medo de perder uma reeleição que, se assim o quiser, tem mais do que garantida.

Em meu entender, o caso é muito mais simples. Não se trata de votos nem se trata de política. Trata-se de boa educação.

Quando um homem como Jardim classifica deputados da Assembleia que o elegeu Presidente do Governo Regional como um bando de loucos, convém às pessoas bem-educadas não discutir com ele na praça pública.

Quem já discutiu com regateiras sabe que, diga o que disser, fica sempre a perder perante o chorrilho que lhe cai em cima.