Ela é carioca

Batom nas bocas de fumo

A vida no Rio de Janeiro é mesmo complicada. Eu apenas pressenti essa dureza nos 21 anos que lá vivi. A realidade das favelas é muito mais complexa do que as novelas vendem como produto de grande consumo. Esta semana, um estudo mostrou um lado até agora ignorado: a crescente participação feminina no tráfico de drogas.

Discretamente, as mulheres assumiram um papel cada vez mais relevante na estrutura que suporta a importante actividade económica no tráfico de drogas carioca. Começaram mesmo a ocupar funções de relevo na hierarquia do negócio.

Uma notícia de "O Globo" explica que já são desde responsáveis pela segurança dos chefes que preparam e vendem as drogas à construção de toda uma rede de apoio aos homens envolvidos no tráfico. Algumas sobrevivem vendendo comida, comprando roupas, tratando dos feridos, ajudando os traficantes recém-saídos das prisões, pagando subornos aos polícias e até satisfazendo sexualmente os traficantes.

O retrato inédito serviu de base para o livro "Falcão - Mulheres e o tráfico", da autoria de Celso Athayde e MV Bill. Os pesquisadores visitaram 20 estados brasileiros, durante oito anos, à procura de histórias reais que permitissem entender a razão que terá levado "crianças, adolescentes, jovens, mães e até avós a buscarem uma vida no mundo do crime".

Os investigadores afirmam que pelo menos 20% dos serviços das bocas de fumo sejam já assegurados por mulheres. Segundo o estudo, a actividade que mais emprega mulheres no tráfico do Rio é o transporte de drogas, dinheiro e armas. Um mundo fácil para entrar e difícil de sair, devido à dependência económica que subjuga estas mulheres, muitas vezes, elas próprias toxicodependentes.

Um caso deprimente da conquista de espaço "profissional" pelas mulheres. Esta semana, a "Newsweek" contava casos de sucesso de mulheres no poder. Será que é de conquista de poder que se trata?

Christiana, jornalista