A Caminho

Lar, doce lar, seja onde for pelo mundo fora

Cada qual tem a sua Lisboa, seu Porto, sua Paris ou Buenos Aires.

Quando se fala de Buenos Aires, fala-se de tango, de La Boca, do cemitério da Recolleta. Eu não vi nada disso. "Como não?! Mas o que fizeste tu em Buenos Aires em quase uma semana?!?"

A minha Buenos Aires chegou-me pelos olhos do Tomas, meu anfitrião durante a minha estadia pela capital do tango e das milongas. Amigo de longa data? Não. Conhecemo-nos 2 minutos depois de a minha última boleia me ter deixado no centro da cidade. À 1h30 estava eu de mochila pousadas no chão de um qualquer esquina quando chegou o Tomas com o sorriso que sempre me mostrou nesta relaxante semana porteña.

O Tomas, jovem estudante de ciências políticas, é membro do Hospitality Club e do Couch Surfing, tal como eu sou há já mais de três anos.

Abrir as portas de casa a estranhos e mi casa es su casa

Estes dois clubes têm como princípio o intercâmbio cultural. A ideia surgiu quando terminou II Guerra Mundial. Fomentava, então, a paz através do conhecimento e comunicação entre povos mais ou menos distantes. Começou com o clube SERVAS, do esperanto "servir". Enviavam-se cartas a solicitar acomodação por dois ou três dias. Uma forma de conhecer a cultura, uma forma de conhecer pessoas. Uma forma de ajudar quem viaja.

Com o surto da internet, surjem no início do milénio estes dois clubes. Em vez de uma semana de espera, a mensagem com o pedido chega imediatamente à caixa de um dos mais de 300.000 membros por esse mundo fora.

Assim, em vez de um estéril hotel ou de uma pousada de mochileiros com recorrentes conversas de "De onde vens?", "Para onde vais em seguida?" "Já foste a...?", podemos, mesmo que superficialmente, entrar um pouco na cultura do local que visitamos. Talvez só mesmo do mundo da pessoa que nos recebe mas o que é a cultura se não as pessoas que dela fazem parte?

Em cada pessoa uma viagem num país diferente

Através destas experiências podemos partilhar música, culinária (caso se saiba cozinhar, que não é o meu caso), costumes, ideias, etc. Falar de política e de estilos de vida, ou somente de jardinagem e do resultado da partida de ontem. Aprender que aqui se diz desayuno e não pequeno-almoço. Tomar um café, ficar uma noite, uma semana ou até um mês.

Viajar de mochila às costas ou com 3 malas de rodinhas e saber que temos um pedaço de chão e um sorriso de boas-vindas em quase qualquer lugar do mundo.

Assim foram as minhas estadias em Buenos Aires e Córdoba, juntos com os meus anfitriães, seus amigos, suas rotinas, seus costumes, seus sorrisos.

Se tenho de lá voltar para fazer a tour turística? Talvez? Se me arrependo? Nem pensar. Por agora ficou o "ché, boludo" no ouvido.

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